Nas Mãos do Mestre Henry Ho (por Alexandre Bastos)


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O termo luthier se refere ao profissional que restaura, reforma, adapta, ajusta e constrói instrumentos musicais.

   O termo surgiu na Idade média quando os italianos passaram a denominar o alaúde como liuto. O alaúde é o predecessor do violão e este instrumento de cordas era utilizado pelos menestréis, daí o surgimento do termo liuteria. Ainda na Europa, os franceses denominam o alaúde como lit, que possibilitou o surgimento dos termos luthier e luthieria. No Brasil é papel muito importante dentro do cenário musical, pois a abertura do mer- cado para importação possibilitou aos músicos brasileiros o acesso a infor- mação vinda de fora do país com a importação de revistas e livros além da importação de instrumentos e acessórios musicais. Porém, apesar dos equipamentos importados chegarem ao Brasil, ainda faltavam profissionais que realizassem a manutenção dos mesmos. Neste ponto começaram a sur gir os profissionais de luthieria.

    Seizi Tagima, Eduardo ladessa e Tigueis foram alguns dos profissionais que ganharam destaque pelo seu trabalho na década de 1980 e por meio deles vários outros começaram a se interessar pelo oficio de luthier. mas faltava um curso ou uma escola que pudesse formar novos profissionais, além de orientar e fornecer consultorias. Neste ponto entra Henry Ho. Em 1998, Henry Ho e Marcio Benedetti fundaram a B&H Escola de luthieria, sendo esta escola a pioneira dentro do gênero no Brasil. A escola é es- pecializada na formação de professores e técnicos em instrumentos sólidos e acústicos. Atualmente a escola também oferece cursos complementares, consultoria técnica, consultoria de negócios e worshops, a B&H também oferece certificado de conclusão do curso. lo- calizada no bairro de Vila mariana na capital de São Paulo, a B&H se tornou uma referencia quando se trata de uma escola de luthieria e formação de profis- sionais no Brasil.

    Conheça um pou
co mais sobre Henry
Ho onde ele expõe um
pouco da sua trajetória,
 a sua participação para
que a profissão de luthier fosse regulamen
tada e reconhecida e um pouco da filosofia da B&H.

Henry nos conte um pouco mais da sua trajetória e quando e como decidiu enveredar pela carreira de luthieria e professor de luthieria?

Meu primeiro contato com a luthieria foi quando fui visitar uma oficina na Vila Mariana, dos luthiers Eduardo Ladessa e Tiguez. Já era músico e tocava em barzinhos, fui levar meu instrumento para ajustes básicos. E não demorou muito para querer mexer com os instrumentos e fazer as minhas próprias modificações. Posteriormente, quando manifestei meu desejo de aprender o ofício, fui convidado para integrar a equipe.

Mudei para o Japão em 1989 e na terra do sol nascente, consegui uma vaga de luthier na T. Kurosawa, Co. ltd, uma grande rede de lojas de instrumentos musicais, situada em Tóquio. fiquei 10 anos trabalhando no mercado musical japonês e sempre mantive contato com meu amigo Marcio Benedetti. Quando voltei em 1998, nos tornamos sócios e fundamos a B & H luthieria, a primeira escola do gênero no Brasil. A idéia era fazer algo diferente e no início nos baseamos nos modelos de escolas de luthieria japonesas. Hoje em dia, temos uma metodologia própria e uma infra estrutura direcionada para atender hobbistas e futuros profissionais.

Meu trabalho como técnico de guitarra iniciou no Japão, trabalhei para lenny Kravitz, dio, Blur, Ramones, Rolling Stones (Ron Wood), The Cardigans, Eric Clapton e outros.

No Brasil: Tristania, Hammerfall, Glen Hughes, Raven, Blind Guardian, Mortification, BB King, Steppenwolf, Hirax, Savatage, Helloween e outros.

Graças à iniciativa que vocês tiveram hoje a profissão de luthier é regulamentada e reconhecida pelos órgãos competentes. mas você acha que este nicho profissional pode melhorar? Se pode quais as medidas e atitu- des que deveriam ser tomadas?

Na verdade, a profissão de luthier está descrita na CBO que é o cadastro brasileiro de ocupações. Participei da comissão que viabilizou a descrição. mas a profissão de luthier ainda não é reconhecida. É necessário um projeto de lei aprovada pelo congresso e posteriormente, ser sancionada pela Presidência da República. Essa seria uma medida fundamental para os profissionais desta área.

Você também trabalhou fora do Brasil, como Guitar Tech e roadie se não me engano. o que aprendeu e quais os compara- tivos que você pode traçar em relação ao nosso país?

Aprendi muito com relação à parte técnica e principalmente na conduta. morei quase 10 anos no Japão e provavelmente, é o país mais exigente no quesito técnico. No Brasil, ainda faltam técnicos com conhecimento mais apurado e abrangente. Neste quesito, ainda estamos muito distantes desta realidade.

Particularmente eu também trabalhei certo tempo como roadie e guitar tech aqui. Sem apontar quem quer que seja, pude observar excelentes profissionais e também vários aventureiros. No meu caso, consegui ter acesso a vários artigos, publicações e pude observar com os bons profissionais, como me portar e o que fazer e como resolver situações criti- cas. Em sua opinião o que falta no Brasil para que a profissão seja melhorada em níveis tão excelentes como nos Estados Unidos por exemplo?

Não tem muito segredo, melhorar significa fazer mais cursos, atualizar o conhecimento , desenvolver ferramentas específicas e diversificar as áreas de atuação. Alguns itens obrigatórios: falar o idioma inglês, interagir com outros profissionais e tem uma boa rede de contatos.

Dentro disso, aprendi muito. Aprendi a ajustar meu próprio instrumento, resolver problemas de ultima hora e problemas na hora e a maior lição que tive foi que se deve ter a cabeça no lugar e agir friamente.

Qual o maior conselho que você daria para quem quer entrar nesse mercado?

Para quem quer “enveredar por esses caminhos sinuosos da estrada”, a melhor dica é dosar a observação com a curiosidade, sempre misturando humildade com paciência. Nesse ramo não existe um degrau acima do outro como numa escada. muitas vezes, descemos e subimos pulando degraus e quando tropeçamos, o melhor é levantar e procurar um corrimão.

Hoje sua escola é vista como uma das referencias no aprendizado de construção de instrumentos. Conheci algumas pessoas que fizeram o curso na escola, porém é difícil ver estes profissionais atuando no mercado. Você acredita que hoje os subsídios para se construir uma oficina de luthieria são escassos?

Tenho muitos alunos e formandos atuando como profissionais em empresas do mercado musical. A grande maioria, atuam como técnicos, especialistas de produ- tos, luthiers contratados, roadies e uma razoável parcela que trabalha com marketing e vendas. Com relação aos luthiers autônomos, acredito que em qualquer segmento, as dificuldades iniciais são maiores. montar uma oficina de luthieria de baixa capacidade requer um investimento relativamente econômico. mas o potencial desse perfil de oficina é definido pela capacidade de saber reverter o lucro em investimento e uma dose certa de sacrifício, no início dos trabalhos. Já uma oficina de alta capacidade que produz instrumentos customizados requer um alto investimento em maquinários e dispositivos. ou seja, é um perfil desaconselhável para iniciantes.

Uma grande tendência entre os músicos mais experientes é a customização de instrumentos. Este fato se deve a grande questão de que o instrumento que adquirimos em lojas, nunca está adequado a nós. Em sua opinião, esta tendência vem crescendo e vai de alguma forma, forçar uma nova política mercadologia em relação aos instrumentos musicais, ou simplesmente esta é apenas uma moda passageira que não perdura muito?

Para mim, com experiência de muito tempo como luthier, aprendi a enxergar a customização como algo natural. ou seja, os músicos mais experientes estão sempre suscetíveis a essa prática. Não é um modismo, isso sempre vai existir.

Por mais que o fabricante consiga aperfeiçoar a sua produção e direcionar os produtos para um perfil específico, sempre teremos músicos procurando por algo inusitado ou atípico.

O que você acha que nossa indústria hoje? Pude observar um crescimento em termos de qualidade excepcional. Captadores de excelente qualidade e personalidade, ótimos pedais de efeito, amplificadores com excelente sonoridade, cabos muito bem construídos enfim. Você acha que nossa indústria em um prazo entre cinco e dez anos pode competir de igual para igual com as tradicionais referencias que temos?

Nossa indústria já possui parâmetros bastan- te satisfatórios que esbarram eventualmente em preconceitos e senso comum. Em determinados setores como a ferramentaria (produção de peças), o panorama não é nada promissor. mas nos demais segmentos, a produção nacional melhorou muito e pode competir tecnicamente com as marcas estrangeiras. mas guardadas as devidas proporções, ou seja, que o comparativo seja feito de maneira correta.

Não vou entrar no mérito de uma discussão acerca da questão dos tributos fiscais provavelmente o maior vilão que desacelera e prejudica a produção nacional.

Para pontuarmos esta entrevista, quais as considerações, dicas e conselhos que você daria para quem deseja ser luthier, guitar tech e roadie.

Eu só posso dizer que hoje em dia, em qualquer profissão, não basta ser apenas um formando ou ter uma certificação de conclusão. Em qualquer ramo, as dificuldades iniciais são imensas. No ramo da luthieria e na produção musical, não poderia ser diferente. minhas dicas são os cursos, mas procure sempre pelos mais procurados e requisitados. Tenha sempre uma boa rede de contatos, como disse anteriormente e invista sempre em material técnico. Aprenda a desenvolver ferramentas e trabalhe a saúde mental.

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