Entrevista Frank Solari (por Gabriel Maltez)


 

Por Gabriel Maltez

Fotos Marcelo Schmidt

 

GTR EXP – Fala Frank, tudo certo? Primeiramente, gostaria de comunicar nosso apreço por todo o seu trabalho, sua história e o tremendo músico que você é. Em segundo lugar, parabéns pelo disco, nele reside a qualidade presente em todos os seus trabalhos. Ao escutá-lo, pude perceber uma multiplicidade de gêneros, timbres e cores. Existem faixas etéreas, outras de inspiração erudita como “Vivaldi Summer” e “Chopin Valse Opus 64/2”, e até mesmo Country com “Catch the Rabbit”, toda essa variedade sem perder consistência. Por favor, nos fale um pouco sobre a proposta do trabalho e os conceitos que você mentalizou ao realizá-lo.

 

FS – Beleza Gabriel, vamos lá!

A intenção no meu novo álbum MULTIVERSAL é mostrar os múltiplos universos musicais nos quais estamos inseridos, quebrando barreiras e conceitos antigos, mostrando que não somos ou fazemos apenas uma função nessa vida. O propósito é unir as pessoas em torno da música, sem necessidade de provar nada a ninguém, apenas vibrando em algo bom. As composições soam às vezes mais fortes ou extremamente complexas e em outros momentos passam a soar suaves com construções muito simples. 

 

GTR EXP – E como foi o processo de composição? Você foi mais metódico ou simplesmente “deixou fluir”?

FS – Normalmente uma idéia me vem em pensamento e eu registro num gravador, num celular ou num papel. Se precisar cantar eu canto, vale pela intenção original. Não tenho o processo definido, por isso estou sempre em alerta para uma nova ideia. Assim nasceram quase todas as minhas músicas. No segundo momento vou para o estúdio e começo a produção. Escolho os instrumentos que gostaria de ouvir e testo. Defino o andamento e os detalhes rítmicos começam a aparecer. As camadas de sons se constroem a cada instante. As coisas vão se encaixando e às vezes aparece um convidado especial inesperado. A parte mais metódica acontece quando eu busco os timbres de cada instrumento. A química sonora completa o colorido da composição.  

 

GTR EXP –  O caos causado por todos os desdobramentos da pandemia do COVID-19 afetou a vida de todos. Como todas essas mudanças influenciaram a sua vida profissional e a gênese deste trabalho?

FS – Com certeza, ainda não conseguimos perceber o quanto, mas no futuro acho que esse momento será visto como um grande aprendizado! Tivemos que parar para pensar e questionar. Temos que conectar com o nosso objetivo de vida e realinhar tudo o que fazemos para isso. Ao longo da vida fui montando o estúdio onde trabalho aqui em casa. Vivo há anos fazendo música e durante a pandemia continuei trabalhando com produções, projetos e participações com todas os protocolos claro. Mas o novo álbum começou bem antes da pandemia. São 12 músicas escolhidas, compostas, gravadas e interpretadas com diversos instrumentos além da guitarra, de épocas diferentes, arranjadas com múltiplas estéticas vindas inclusive dos mais antigos estilos musicais diretamente para o momento em que vivemos agora, como contar uma história… Sinto falta dos shows de lançamento com as pessoas vibrando e das grandes emoções que a música ao vivo no traz!

 

GTR EXP –  Uma das grandes marcas desse disco é certamente as participações de diversas figuras importantes no cenário musical, temos Aquiles Priester, Mateus Asato e mais uma boa porção de profissionais conhecidos. Como foi trabalhar com essa galera?

FS – São todos artistas incríveis, geniais! É um prazer contar com a arte de cada um no disco. Os guitarristas André Nieri e Mateus Asato trouxeram solos super interessantes e de alto nível técnico. Meu irmão assinou a composição Stargate junto comigo e gravou um track inacreditável de slap no baixo. O baterista Kiko Freitas assina comigo a faixa Rhythm Travellers e desfila nuances técnicas e sutilezas impressionantes. O Aquiles Priester trouxe a pegada mais metal na Spiritual Guide e na Força Vital. Meus atuais colegas de banda, o baterista Elias Frenzel e o baixista Valdi Dalla Rosa mandaram muito bem no Vivaldi Summer Presto e na regravação da Catch the Rabbit, tocando totalmente em sintonia comigo. As contribuições vocais da Karina Lacerda em Spiritual Guide e da Izmália em Alma da Amazônia estão emocionantes, assim como os efeitos de percussão do Mestre Jaburu. E por fim, a bela harmonização do tecladista Mauro Araújo em A New Morning Shine, do Tritone. Estou muito satisfeito com todos!

 

GTR EXP – Além das participações, é notável a qualidade cristalina da gravação, produção e mixagem. Quem esteve envolvido nesses processos? Onde foram gravadas as faixas?

FS – Gravei a maior parte do trabalho aqui no Solari Studios, exceto as participações especiais que foram gravadas e enviadas a parte, a bateria do Aquiles Priester que foi gravada no Estúdio Soma e ainda o meu sitar indiano e a bateria do Kiko Freitas na faixa Rhythm Travellers que foram gravados no RKE Estúdio. Todos aqui no Sul.

O processo de mix foi sendo feito por mim durante as gravações e edições. E finalizando com meu parceiro Henrique Wilasco até chegar na Master.

 

GTR EXP – Ficamos também curiosos quanto ao gear usado no disco. Quais foram as guitarras, amplificadores e pedais de escolha para este trabalho?

FS – Usei quase tudo o que tenho. Só na faixa título usei nas melodias:

         

 – Doubleneck Guitar Sitar “Frank Solari” by Rodrigo Paz

 –  Ibanez 540 Radius (1987) modificada   

 –  Guitarra Baiana “Frank Solari” by Elifas Santana

    E nas bases uma PRS Custom 24, uma clean PRS 12 Strings Custom 22 e um violão Taylor 312.

 

Cada música tem sua história e detalhes. Ao todo devo ter usado umas 12 guitarras no disco todo, mais ukulele, violão nylon, sitar, baixos, teclados, percussões e efeitos…       

Os pedais de drive sempre misturo um pouco o calor do amp e com o pré valvulado da Serrano Amps (protótipo custom) e dele seguindo para amplificar nos cabeçotes Orange Dual Terror, Marshall Lead100 Mosfet 1984, Carvin V3 ou Fender Bassman. Entre o pré e o amplificador eu testava pedais Boss SD-1 e DS-1 com modificações Mfmod Custom Pedals, um Flanger MXR VH e um Wah Probe da Zevex. Os delays vem de canais dobrados na mix e os reverbs são plugins do Protools.

Alguns sons limpos foram gravados diretamente em linha.

Nos violões, ukuleles, percussões, efeitos vocais, sopros, vassouras e tudo que foi acústico usei os Neumann KM 184 e um TLM103 plugado num Universal Audio 6176.

 

GTR EXP  –  “Stargate” foi uma das que mais me chamou a atenção. A guitarra simplesmente flutua cintilante, celestialmente melódica. Sem contar o fantástico preenchimento do baixo e da bateria. Desta forma, a faixa consegue encontrar o equilíbrio entre melodia e ritmo, algo considerado por muitos como impraticável. Gostaríamos que falasse um pouco sobre seu trabalho de guitarra nesta faixa.

FS – Sim, a idéia foi criar uma história melódica com notas longas no início criando a atmosfera estelar. O baixo e a bateria conduzem a melodia da guitarra que flutua com as semicolcheias deslocadas em tempos específicos, trazendo o ouvinte para dentro de um “wormhole”. Foi exatamente essa a intenção! Os detalhes incríveis do slap do Roger Solari e do fraseado do André Nieri ficaram geniais! Um momento muito especial!       

 

GTR EXP –  Já que falamos da nossa favorita do disco, nada mais justo que permitir ao artista comentar sobre a sua. De todas as faixas, qual você gostou mais? Por quê?

Pergunta difícil, hein? Na verdade não tenho uma preferida porque elas tem diferentes histórias e algumas contam com convidados muito especiais. Não haveria como comparar. O Multiversal é uma coletânea que reúne músicas de Vivaldi (1678), Chopin (1810) até as minhas “Magic Planet”, “Stargate” e a faixa título (compostas em 2020). Estilos, escolas, culturas e épocas distintas. Costuradas pelo som da minha guitarra, minha experiência que vem da minha consciência e história.

 

GTR EXP – Em relação à sonoridade erudita (presente em algumas faixas do disco), como você avalia a influência deste tipo de música sobre a sua própria formação?

FS – Eu diria que minhas primeiras lembranças envolvem a música. Muitas vezes Bach, Mozart, Beethoven, Tchaikovsky entre outros. Ainda criança comecei a estudar piano e gosto e toco até hoje. A música erudita era bem comum pra mim, assim como outros estilos populares também. Isso me deixa tranquilo e seguro em quebrar as regras e formas musicais tradicionais no meu trabalho autoral, trazendo divisões ímpares e caminhos melódicos menos comuns para as obras. Aprender a teoria musical foi fundamental e ainda é o diferencial entre os artistas, músicos e produtores.

 

GTR EXP – Fugindo levemente do contexto do disco, gostaríamos de saber a sua opinião. Quais são as qualidades necessárias para ser um músico competente nos dias de hoje?

Tudo que você tiver de positivo vai ajudar a ser um músico competente, desde a pontualidade nos compromissos até a capacidade de resolver as coisas. Mas tudo começa em ter um bom conteúdo ou um bom propósito. Daí passa pela qualidade do trabalho, das interpretações e atuações, de um bom timbre etc. Qualquer atitude que não seja nesse sentido acaba baixando o nível profissional de um músico.

 

GTR EXP – Frank, agradecemos novamente pela oportunidade de te entrevistar e falar sobre esse seu novo e inspirador trabalho. Por favor, deixe um recado para o pessoal que acompanha a Guitar Experience.

FS – Agradeço, foi um prazer!

O meu recado é simples: “Música é coisa séria, algo muito poderoso que pode curar as pessoas. Aproveite o que a música pode fazer!”

Abraços a todos!

 

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