Fernando Vidal (por Alexandre Black)


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Dono de técnica e timbre apurados, Fernando Vidal leva na bagagem uma lista de artistas de dar inveja a qualquer músico que trabalha como sideman. Durante a gravação de seu segundo CD, Vidal fala sobre seu novo projeto, suas influências e ferramentas de trabalho

(texto Alexandre Black)

Fale sobre o novo projeto que você está gravando.

Este meu novo projeto será intitulado Shulling que na verdade é o nome do meu cachorro. Está sendo gravado em trio com André Carneiro no baixo e Mac Willian na bateria, mas em umas 2 ou 3 faixas eu vou utilizar naipes de metais fazendo cama como se fosse teclado e uma outra música chamada Kama Sutra com solo de piano na linha jazz. O CD está sendo feito em parceria aqui no Estúdio M (RJ) com os irmãos Tuta e Diogo, que abriram as portas do estúdio para mim e o resultado está sendo satisfatório.

Comparando o CD novo com o antigo, perce- be-se que o som tem uma pegada mais pesada. Foi essa a intenção?

Sim, comparado com meu primeiro CD (Funk Van), gravei com vários amigos, 6 baixistas, 6 bateristas, 5 tecladistas, sopros, e este fiz questão de gravar com meu trio, que já está na estrada comigo onde tocamos músicas antigas e algumas do Jimi Hendrix e natural- mente devido a esta formação e afinidade existe um puncha mais. Mesmo assim ainda há base, terá levadas de funk e músicas que não são tão pesadas.

Jimi Hendrix está claramente no seu estilo de tocar, mas ainda dá para perceber que você traz influências de fusion , estou certo?

Quanto as minhas influências além de Hendrix, gosto muito de estudar a linguagem de John Sco- field, Scott Henderson, Hiram bullock e John Col- trane. Adoro ouvir John Coltrane tocando soprano, e Scott é sem dúvida nenhuma um guitarrista virtu- ose mas com melodia, pega as raizes do jazz II–V–I (bebop) unindo a sua arrasadora pegada de rock e fica espetacular. É aí que mora o perigo, muitos gui- tarristas de jazz que sempre usaram semi-acústicas, acham que só em pisar num pedal de distorção, eles estarão tocando rock ai e que caem do cavalo, pois do mesmo jeito que é necessário saber muita música para tocar jazz o mesmo se aplica ao rock, tocar com pegada e swing, bends é para poucos (risos).

Você é especialista em guitarra rítmica. Qual a importância em estudar com seriedade este tópico?

O metronome ou uma bacteria electronica, são companheiros inseparáveis.O guitarrista tem que peceber que a dificuldade de se tocar uma frase em semicolcheias rapidamente requer muita prática e tocar guitarra rítmica também. É muito difícil e complexo, envolve swing, dinâmica (mão direita), conhecimento de harmonia (inversões) enfim. O músico precisa separar no seu estudo diário, além de transcrições, a prática concentrada com o metrô- nomo. Se você não consegue tocar no tempo não adianta ser incrivelmente técnico pois assim você só funcionará tocando sozinho. Como profissional 80% do que você toca ou grava, é guitarra base. Pen- se nisso e corra atrás do prejuízo. Sério, pois é isso o que mais ocorre, o cara sola muito bem e quando vem a hora de fazer a base é triste. péssima colocação, som horroroso e assim vai.

Você é um sideman de renome. Você acha que de alguma maneira trabalhar com artistas diversos in- fluencia seu trabalho solo?

Na verdade é praticamente uma consequência. Eu trabalho há tanto tempo com estas pessoas que todo artista inteligentemente quer “ver o gol”. Ele não quer se aborrecer e sabe que vai ficar bom. Graças a Deus, estou na estrada há 20 anos, acompanhando artistas como Marina Lima, Fernanda Abreu, Ed Motta e agora Seu Jorge.

Para começar, neste tipo de trabalho você logo de cara aprende a coisa vital, que é se ade- quar à proposta do estilo. Desta maneira você está servindo a música e trago isso para meu trabalho. Hoje em dia, por exemplo, a garotada que não toca com uma banda, só se preocupa em mostrar suas habilidades tocando sozinho. Eu me considero um privilegiado. Faz quase 20 anos que toco com a Fernanda Abreu e a Marina Lima. 95% das guitarras gravadas fui eu que criei. Com Seu Jorge eu tive que me adaptar à nova formação da banda. Não havia guitarra. Apenas um cavaco e violão. Naturalmente trago esta coisa boa de trabalhar para canção.

Quais os equipamentos usados na gravação?

Utilizo guitarras N. zaganin com captadores Sergio Rosar que têm um som incrível, cordas e cabos da Exilir.

De amplificação estou usando meu Marshall Plexi antigão e todo mexido, que foi fabricado no comeci- nho dos anos 90, com minha caixa Mesa boogie de dois falantes (um Celestion e outro Elecro Voice balck Shadow). uso também um cabeçote Mesa boogie Triple Rectifier com uma caixa Marshall que estou utilizando em estéreo saindo do meu TC Electronics.

Meus pedais são: um wha wha Vox, oitavador boss (OC-2), 2 delays, um para repetições curtas e ou- tro para longas, um booster e um filtro, ambos da Xotic (RC booster/Robotalk), um chorus da T.C. Eletronics, de drives eu uso um blues Drive e um Tube Screamer

e para finalizar um compressor da boss também.
Em cada amplificador um SM-57 da Shure e atrás da caixa Mesa boogie um AKG para captar

a ambiência.

Qual o conselho de você deixa para nossos leitores que desejam ser um sideman de sucesso?

Se prepare, pense na canção, veja se você consegue se colocar bem na musica, sua guitarra naturalmente estará sempre presente. Escute o companheiro, use bem a pausa (ferramenta primordial para um arranjo de guitarra na musica).

bata bola com os músicos na música, igual ao futebol. Se o cara joga sozinho ,nunca emplaca. O coletivo sempre ganha pense nisso. Chame sempre a respon- sabilidade para seu lado, não tenha medo de se expor. Quem não se expõe, não se firma na carreira, vira um músico totalmente descartável e isso nós não vamos querer. Pense que essa profissao requer paixão, muito amor como qualquer outra e vá enfrente.

Grande abraço a todos os leitores e boa sorte!

www.fernandovidal.com.br