Djalma Lima – Vida de Jazzman (por Marcelo Jesuíno)


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Lançando seu novo cd intitulado “Quinteto”, Djalma Lima conta um pouco sobre sua trajetória e como foi o processo de seu novo trabalho.

O guitarrista Djalma lima é professor da faculdade de música Can- tareira desde 2004, graduou-se no Musician Institute (GIT, los Ange- les, EUA) em 1995 tendo aulas particulares de instrumento com nomes como Ted Greene e Steve Cardenas. O guitarrista concentra suas ati- vidades na área da música instrumental tendo tocado com o lendário saxofonista lee Konitz no Chivas Jazz Festival em 2003. Hoje Djalma atua junto à Big Band Soundscape, o grupo do baterista Bob Wyatt, além de seus próprios grupos, o Djalma lima Trio e Quinteto.

1. Você é mais conhecido no meio como um guitarrista voltado a lingua- gem do Jazz, mas também tem grande atuação em projetos voltados a música brasileira, como se deu este processo?

Basicamente o fato de ser mais conhecido como guitarrista de jazz tem a ver com a grande ligação que tenho com o baterista Bob Wyatt. Conheci o Bob em 2000, tocamos juntos em uma ocasião e nesta mesma época a Soundscape estava precisando de um guitarrista para substituir o Alexandre Mihanovich em algumas ocasiões. Ele pegou o meu telefone e iniciamos uma série de trabalhos juntos e uma conexão muito forte surgiu entre nós dois. Muitos dos trabalhos que exerço hoje foi o Bob quemme indicou, como o da Faculdade Cantareira. Venho aproveitando desde então a oportunidade de trabalhar com ele e terminei ficando conhecido por estes trabalhos que são prioritariamente voltados ao jazz. No entanto em paralelo aos projetos com o Bob, também já participei de trabalhos mais ligados a música instrumental brasileira, como o grupo liderado pela flautista léa Freire, que gravou os discos “Antologia da Canção Brasilei- ra” volumes Um e Dois e o grupo do trombonista Bocato, com o qual tive a oportunidade de tocar em Moscou. Além disto já havia tocado com outros nomes significativos da música instrumental brasileira, como o saxofonista Mané Siveira, o baterista Nenê e a pianista Silvia Góes.

2. Atualmente você esta em atividade em diversos projetos. Quais são eles?

No momento os trabalhos que estão em atividade são o meu trio com Bob Wyatt e Bruno Migotto no contrabaixo e o meu quinteto, que é a mesma cozinha mais os saxofonistas Cássio Ferreira e Vitor Alcântara.Desejo registrar ambos em disco ainda este ano. A Soundscape Big Band continua em atividades e também participo do grupo Blue Seven do Saxofonista israelense naturalizado em Nova Iorque Ohad Talmor.

Este trabalho começou em 2002 como um tributo ao Dexter Gordon idealizado pelo Ohad e pelo saxofonista Dennis lee. Nesta época o Ohad foi assistir a um show da Soundscape e nos conhecemos lá. No ano seguinte ele me convidou para participar de alguns shows com o noneto do saxofonista lee Konitz que aconteceriam no Chivas Jazz Festival de 2003. Em 2004 o Ohad retornou ao Brasil para uma nova série de shows com o Blue Seven, o qual eu ainda não fazia parte, mas sempre que ele vinha, formávamos outros grupos para realizar shows em formações menores. Em 2009 o Blue Seven grava seu segundo disco e o Ohad me convida para participar de 4 faixas. Após a gravação terminei entrando para o grupo.

3. Como se deu o processo de composição do seu disco mais recente?

A maioria das composições do disco “Quinteto” tem o objetivo de desviar a atenção de uma possível melodia principal através do uso do contraponto. Na música popular apesar do contraponto ser comu- mente usado, é uma constante a presença de uma melodia tida como principal. Eu tentei evitar isto. Entre 2000 e 2005 estudei harmonia, composição e contraponto com o saudoso professor Ricardo Rizek, o que me aproximou um pouco mais da música eru- dita. Nesta mesma época, eu estava escutando muito discos de jazz “contemporâneo” como os do baixista Dave Holland, que utiliza bastante contraponto em suas composições. Como sempre tive dificuldade em escrever uma melodia, escrever em contraponto foi uma solução interessante para mim. O disco foi todo composto entre 2003 e 2005, mas as composições foram se modificando a medida que as trazia para o grupo tocar. Gravamos o disco em julho de 2008 e lançamos em dezembro do mesmo ano.

4. Quais são os seus projetos para o futuro?

Hoje quando ouço o disco “Quinteto” acho que foi dada muita ênfase nas composições, nas vozes melódicas e suas nuâncias. No próximo trabalho do quinteto quero que a guitarra tenha um pouco mais de destaque, desde o timbre até a participação mais ativa na execução dos arranjos. Compus as músicas do ”Quinteto” sem pensar no aspecto improvisatório delas, eu estava voltado exclusivamente para a composição. Consequentemente as harmonias destas músicas surgiram de forma menos convencional, resultando em progressões não tão usuais. No próximo disco buscarei dar mais liberdade harmônica para os músicos improvisarem. Este é também o motivo pelo qual quero lançar um novo disco em trio, voltado a “standards”, para tocar mais relaxado. Meu primeiro disco, que foi gravado em trio, vai fazer 10 anos, e gostaria de lançar um novo dis co no mesmo formato para comemorar. Uma espécie de segunda chance.

5. Você é conhecido como um professor renomado há muito tempo. Como se deu o seu envolvimento com o ensino de música?

Voltei do GIT em 1995, no ano seguinte comecei a tocar no circuito de música instrumental paulistano e já dava algumas aulas particulares. Por volta dessa época, conheci o multi instrumentista Sandro Haick que em 1998 me indicou para dar aulas no IG&T. No mesmo ano comecei a dar aulas no Souza lima sob indicação do amigo e guitarrista Michel leme. A partir dai dar aulas passou ser a minha principal fonte de renda. Ainda em 1998 fui convidado para dar au- las nos festivais de Maringá e londrina, o qual voltei muitas vezes assim como o festival de Ourinhos. Em 2004 comecei a dar aulas na Escola Superior de Mú- sica da Faculdade Cantareira, como disse, indicado pelo Bob. O curso é focado em Jazz e música brasileira. Mantenho também uma sala onde dou aulas de guitarra e harmonia particular e em grupo.

6. Você vem atuando no circuito de música instru- mental desde 1996. Qual a sua avaliação deste circuito hoje?

Na época em que estava começando o meio estava bem mais ativo. Nos saíamos de casa para ver quem estava realmente tocando na noite. Hoje não vejo isto acontecer. Apesar de ter mais gente tocando bem, existem poucos lugares para se tocar e mesmo estes poucos lugares permanecem vazios. Acho que o acesso a internet trouxe uma opção para que as pes- soas possam não sair de casa e ainda assim ter acesso a música do mundo todo. O garoto pode escolher entre sair de casa para ver um grupo local de destaque, encarar o trânsito, a violência e o custo, ou assistir a vídeos de seus músicos favoritos no youtube. Por um lado, para tirar as pessoas de casa agora é preciso oferecer um trabalho de nível altíssimo, e isso é bom. De outro lado, esta realmente difícil despertar o interesse das pessoas pela música instrumental. Nós músicos, continuamos na luta.