Fred Andrade e o seu novo DVD Mandinga (por Luiz Azevedo)
Dono de uma longa carreira musical, percorrendo como sideman de renomados artistas brasileiros, atuando em grandes festivais de música ecompondo jingles e trilha sonora para filme, Fred Andrade nos fala sobre sua experiência musical e seu novo dvd “Mandinga”
Como surgiu o projeto Mandinga e oque os impulsionou a regravar em vídeo?
O projeto Mandinga surgiu da afinidade musical de dois amigos que trabalham juntos no Conservatório pernambucano de Música. Eu e EbelPerrelli já tocávamos juntos em muitas situações diferentes e resolvemos fazer um trabalho focado em cima da música que mais curtíamos. Regravar em vídeo foi muito baca- na, pois hoje tem muita gente que tem curio- sidade em ver a dupla em ação. Na época do Mandinga não existia a possibilidade de se registrar imagens com facilidade. Além disso, acho que pode ajudar demais pras pessoas que querem estudar esse tipo de som que fazemos.
Por que a escolha de gravar em estúdio e não em um show ao vivo?
Pela praticidade. O estúdio que fizemos o trampo chama-se Casona e além de áudio eles temtoda a estrutura necessária paragravação de vídeo também. Foi super simples. Em dois ou três dias conseguimos matar tudo.
Você toca de maneira livre e única, em sua execução existe uma preocupação em caracterizar exatamente a rítmica dos estilos brasileiros ou você trata isto com liberdade?
Acho que hoje depois de tanto tempo tocando e compondo, tudo sai de maneira natural. Liberdade total! Senão pra mim não fica divertido.
Existe uma grande diversidade de ritmos brasileiros dentro de uma mesma canção, como o maracatu e o baião, somando a sonoridade e pegada rock,em catucatuisso está bem visível. Como foi desenvolvido este casamento de diversas sonoridades?
De maneira natural. Eu e Ebel temos a mes- ma árvore genealógica no que condiz às influên- cias. Ouvimos muito bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e DeepPurple, e trabalhamos com um bocado de artistas da música nordes- tina. Isso naturalmente vai moldando nossos gostos musicais e nosso jeito de fazer a coisa. Deu no que deu: O peso do Rock com as melo- dias modais e ritmos daqui.
Certamente houve muita pesquisa para se adquirir esta naturalidade com fraseado especifi- camente nordestino. Quais foram suas principais influências que moldaram seu jeito de tocar?
Eu ouvi tudo de Heraldo do Monte, e também muita orquestra de frevo. Tive uma verdadeira obsessão durante um período. Compositores como Carnera, Levino Ferreira, Nelson Ferreira e Zumba tocavam estavam toda hora no meu cd player. Corri muito atrás das grades inteiras dessas orquestras pra saber exatamente como funcionavam as perguntas e respostas entre metais e palhetas e com certeza isso me aju- dou nessa onda de frasear pensando em duas vozes o tempo todo. O guitarrista brasileiro às vezes está esquecendo-se de sincopar e isso é ruim, já que é uma característica muito forte da nossa música.
Muita gente acha que a improvisação tem que ser uma criação 100% espontânea e ou- tros acham já são caminhos pré criados porém organizadas de maneiras diferentes. Como você se enquadra dentro desta temática?
Não sou um grande improvisador. Não sou daqueles caras de Jazz que colocam um acorde e já vão derramando frases. Aliás, pra dizer a verdade não curto muito quem tem muitas cartas nas mangas e coisas decoradas o tem- po todo viu. Sei que isso também dá um tra- balho danado, mas a música fica com sabor de, “isso aqui já vi”. Eu prefiro ir tocando e achando um caminho meu. Quando vou gra- var, toco um bocado de vezes e tentoum ca- minho para aquela músicae vou aqui e acolá deixando o acaso me levar. Às vezes os caras que se dizem os maiores improvisadores são osque mais usam o Control C Control V. Que anacrônico né? (risos).
Percebi que você utiliza acordes com sono- ridade crunch(leve distorção). Muitos artistas quando utilizam essa combinação acabam deixando o som embolado. Como você obteve esse resultado limpo?
O mérito é todo do pessoal da Altovolts. A Altovolts desenha os amps pra dinâmica. É bo- tar o volume, deixar o Power distorcer e tocar. Também tenho de agradecer ao potenciômetro de volume da guitarra. Ô botãozinho mágico sô (risos). Claro que a excelente captação do Ca- sona também ajudou e muito nessa clareza que você se referiu.
8. Existem canções mais sutis e belas como “Carneiros” e “A Despedida do Circo”. Você poderia comentar sobre cada uma?
“Carneiros”foi a praia que ficamos 10 anos atrás ensaiando pra gravar o Mandinga. Por isso aquele clima leve. Aquilo tudo era uma grande farra na época. “A despedida do circo” já tem esse clima meio triste de interior. A imagem me influencia muito e o circo se desmontando tem uma imagem muito bonita e melancólica. É até uma coisa meio cigana e isso já me leva pro terreno do Django que é um músico que simplesmente amo. Sei lá… acho que tenho uma ascendência praqueles lados!
9. Você é uma pessoa que agrega valores a sua música, como no caso o rock e fusion, sem perder a identidade nacional que é tão rica melódica e ritmicamente. Como você vê o cenário musical para a música basicamente nordestina já que você toca música brasileira mas não propriamente bossa ou mpb? E Como esta a aceitação do Mandinga?
Eu sou meio cético em relação a atingir grandes públicos com o tipo de som que faço. Aliás, se atingisse já começaria a achar que não estou fazendo algo tão bacana, pois o gosto da maioria das pessoas foi manipulado tanto tempo que se perdeu quase que totalmente. O sucesso pra mim é estar tocando essa verdade da gente e ainda ter um certo público fiel. Odiaria passar pela terra e não deixar nada legal pros próximos habitantes. Que bom que tem pessoas interessadas em coisas que tem fundamento e que são feitas com paixão.
10. Qual é seu set atual?
Amps da Altovolts, BOG (Deep Trip), Reel Echo (Danelectro), Zvex (Box of rock), Board PB 12 Land Scape, Palhetas Lost Dog, Guitarras Condor.
11. Você contou com algum apoio para este projeto?
Nenhum. Fomos nós dois e o Estúdio Caso- na na fé e coragem.
12. Para finalizar esta entrevista eu gostaria que você deixasse alguma dica para os leito- res do site Guitar Experience de onde e como buscar este universo musical brasileiro que é tão rico e ainda há muito que explorar?
Digitem no Google música brasileira boa e depois colem no Youtube e assistam tudo, depois vão tocar e tocar. Deem tempo ao tem- po que com certeza chegará a hora. Hoje está muito fácil. Basta desligar um pouco a TV e querer aprender.
Abração e obrigado pelo convite pessoal!