Tiago de Moura – Atividade sem Fronteira (por Alexandre Bastos)


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O guitarrista gaúcho Tiago de Moura está lançan- do seu quarto CD “260” e se destaca como uma das grandes revelações da música instrumental brasileira. Tiago também recebeu destaques das revistas Guitar Player e Cover Guitarra e no ano de 2010 participou do Festival Guitar Experience, um encontro em Buenos Aires que reuniu grandes guitarristas da América do Sul. Além disso, Tiago foi um dos vencedores do Projeto Rumos, promovido pelo Itaú Cultural, no qual concorreram milhares de músicos do país. 

O músico tem se mostrado em plena atividade, realizando uma série de shows e workshops pelo país, sendo apontado como um dos gran- des nomes da guitarra brasileira na última década. Alexandre Bastos conversou com Tiago de Moura sobre sua carreira, influências, método de composição, música, formas de estudo, dicas e sobre o seu recente disco. 

Tiago, fale um pouco de sua carreira, experiência musical, formação e influências.

O começo foi “arranhando” um violão que meu pai me deu aos 7 anos de idade, mas fui realmente me interessar por música mais tarde aos 16 anos, quando comprei uma guitarra influenciado principalmente pelo Rock in Rio 2 de 1991 e por uns amigos do condomínio em que morei, na cidade de Cascavel-PR. Em seguida voltei ao RS e montei uma banda de trash metal chamada Vogelgesang e como meu pai é músico de MPB, esse estilo também foi sendo incorporado no meu jeito de tocar e mais tarde ingressei numa banda de baile, além de ter tocado por muitos anos em bares da região. Cursei música LP na UPF, além de ter participado de cursos com músicos renomados como Pollaco, Julio Herlein e Edílson Ávila. Minhas principais influências são o Santana, Robben Ford, Jeff Beck, Frank Solari e Edu Ardanuy.

Tiago, você não está localizado no grande eixo musical (São Paulo), se é que isso ainda existe, mas tem estado em grande atividade, seja em shows ou workshops e é bastante conhecido no meio instrumental. Quais são as razões que o tem mantido de maneira tão con- tundente nesta atividade toda, produzindo e lançando discos? Você acha que hoje o trabalho de um instrumentista pode ser divulgado para o país inteiro e porque não o mundo inteiro, nes- tes tempos de internet?

Na verdade me mantenho nessa atividade, principalmente de gravação, por ter sido a forma que encontrei de estudar música, pois sempre que me deparo com coisas novas acabo compondo algo novo para mim e sinto a necessidade de registrar isso. Quando ouço os meus cds percebo as “coisas“ que não estavam boas e tento não cometer os mes- mos erros e acho que isso tem me feito evoluir naturalmente como guitarrista, principalmente como músico. Quanto a divulgar, a internet está aí pro mundo todo, mas existe o paradoxo do excesso de informação x falta de pesquisa, o que resulta normalmente em se escutar os mesmos, mas aos poucos chegaremos lá!

Como o Projeto “Rumos” do Itaú Cultural e o Festival “Guitar Experience” foram importantes para você tanto como instrumentista, como pessoa, e o que estes eventos agregaram na sua carreira, musicalidade e vida?

Principalmente o projeto do Itaú tem me feito repensar a forma de abordar a guitarra. Ali a banda precisa de sons viajantes, harmonias mais elaboradas e espaço para o cantor, o que me coloca numa função bem diferente do que estou acostumado com meu trabalho solo que justamente é de solista, não que não haja solos no “Mujangué“, mas eles tem de estar num contexto mais brazuca e em conexão com os colegas. Já o GE foi com meu trabalho, então foi mais tranqüilo no quesito execução, mas ele me trouxe uma experiência um pouco difícil que foi tocar pressionado, já que tinham grandes guitarristas ali no lado da cortina de olho e ouvidos no som, são experiências que não existem no quartinho de casa gravando um vídeo pro Youtube.

Você ainda continua morando em sua cidade natal? (Tiago é natural de Passo Fundo, RS. N.E.) Se continua morando, isso lhe traz tranquilidade e inspiração para compor, pois sendo uma cidade afastada dos grandes centros urbanos, a vida costuma ser bem mais calma, pois não tem toda a agitação, pressão e nervosismo de uma megalópole. Isso auxilia muito no processo de composição e já que estamos falando nisso, você tem um processo de com- por ou para você compor é algo natural, sem racionalizações ou sistemas científicos ou racionais?

Já faz 8 meses que estou morando em SP, dando aulas no Conservatório Souza Lima de Alphaville e Moema. Na verdade, agitação, pressão e nervosismo são condições psicológicas que podem ocorrer em Passo Fundo ou em São Paulo, é claro que no RS as coisas do dia a dia, como ir a um restaurante ou ao banco são menos estressantes, mas pra mim isso independe pois as minhas composições vêm sempre do meu estado de espírito e de eu estar em função de compor um novo trabalho. Quando planejo isso, trabalho todos os dias até a finalização, não sou um cara que fica guardando composições pra um dia quem sabe… Agora utilizo os recursos técnicos sim, desde o disco “Rain“ tenho estruturado no papel as músicas sempre respeitando as formas, acho muito chato ouvir um disco em que as partes estão de qualquer jeito.

Seus discos têm uma característica marcante: a fusão de diversos ritmos e um amadurecimento musical, artístico e estético muito grande e diferenciado dentro do universo da guitarra rock instrumental do nosso país. O fato de ser um músico que nasceu fora deste nicho urbano contribui para que sua música seja tão diversificada?

Acredito que sim, pois além de ser um cara fora do “eixo”, também sou caseiro, então as “tribos” não me preocupam em nada, faço a música com o ritmo que ela nasceu não importa se for um chamamé ou um heavy metal, se colou no meu ouvido, está ok, se ela alcançar as pessoas, maravilha!

Nesta sua maneira pessoal de atingir os resultados sonoros, como você desenvolve e pensa em seus improvisos? Você segue uma harmonia especifica, segue um “cardápio” de escalas e arpejos que mais gosta e etc.?

Às vezes me pego fazendo uns “shapes” tanto de arpejos quanto de escalas, mas na verdade no “momento” penso em notas. Quanto vejo um acorde penso quais vão ficar mais legais, se quero um (#11) procuro saber quem ele é a partir de qualquer nota e assim faço com os outros intervalos; na minha opinião o mais importante é saber onde estão as notas no braço inteiro e que relação intervalar essa nota tem com o acorde que está sendo tocado. Costumo também usar as guide notes (3a e 7a) nas trocas de acordes.

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