Em Busca de Um Sonho (Por Rafael Ferraz)
O mundo da guitarra sempre teve muito mais homens em destaque do que mulheres. Essa é uma realidade, mas que não significa que as mulheres não tenham representado, e muito bem por sinal, a guitarra elétrica. Bonnie Rait, Jennifer Batten, Leni Stern, Orianthi, entre outras, são exemplos de que a combinação “guitarras e mulheres” também dá muito certo. Aqui no Brasil temos também nossas mulheres guitarristas, entre elas, Marcela Campos. Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Marcela estudou com o guitarrista Roger Franco, integrou bandas locais e deu aulas. Hoje em dia ela buscando algo que é o sonho de muitos músicos do nosso país: trilhar uma carreira no exterior. Nessa entrevista você vai saber mais detalhes de como tem sido essa estrada musical que a Marcela está percorrendo, entre outros detalhes da carreira dela.
Como pintou o seu primeiro contato com a guitarra?
A guitarra despertou o meu interesse quando eu ouvi pela primeira vez os clássicos do Aerosmith. Eu me apaixonei pela energia da músicas deles e pelos riffs e solos do Joe Perry! A partir disso, surgiu a paixão pela guitarra e a vontade de aprender o instrumento. Ganhei a minha primeira guitarra aos 16 anos e nunca mais larguei, rs! Comecei a estudar e levar o instrumento a sério tendo aulas particulares com o Roger Franco, músico que eu admiro muito. O Roger foi essencial não só como professor mas também como amigo e grande incentivador do meu sonho.
Quando você decidiu que a música se tornaria sua profissão e quais foram seus primeiros trabalhos com a guitarra?
Na época de prestar vestibular eu já estava decidida seguir a carreira de guitarrista, mas no começo foi bem difícil de convencer a minha família. Venho de uma família sem ninguém na área de música ou mesmo artes em geral, então quando eu falei que queria ir pra SP estudar guitarra a recepção não foi das melhores, rs! Eu acabei me formando em Relações Públicas e adiando um pouco o meu sonho.
Quando me formei em RP, eu comecei a dar aulas particulares de guitarra/violão e com a grana das aulas consegui melhorar o meu equipamento (até então a minha velha Washburn era a minha “filha única”). Minhas primeiras gigs foram tocando em igrejas e em bandas de rock em BH, o que me ajudou muito em relação a experiência de palco.
Você estudou no LACM(Los Angeles College os Music). Conte-nos sobre a sua experiência.
Estudar no LACM foi uma experiência incrível! Eu optei em fazer o Degree, que é o curso de um ano e meio. O currículo da escola é bem completo, abordando todos os aspectos para a formação de um músico completo e versátil.
Durante o curso eu tive o meu primeiro contato com vários estilos, já que antes eu só tocava rock. Estudar jazz, funk, blues, fusion e world music foi excelente para expandir a minha percepção sobre instrumento e crescer musicalmente.
Poder aprender diariamente, receber conselhos e “puxões de orelha” de professores excelentes como Tariqh Akoni, Jody Fisher, Art Renshaw, Dave Hill e Bill Fowler, entre outros, foi sem dúvidas um divisor de águas no meu desenvolvimento como guitarrista.
Algo muito bacana do LACM também são as amizades e contatos que acontecem durante o curso. Tive a oportunidade de conhecer e tocar com músicos do mundo todo (na minha turma tinha alunos do México, Rússia, EUA, China, Bangladesh, Holanda, Costa Rica, Inglaterra, Nova Zelândia).
E como surgiu o desejo de trilhar uma carreira no exterior? Fale um pouco sobre como é viver de musica fora do pais.
Desde que eu comecei a me interessar por guitarra, eu sempre quis aprender, tocar e estar ao redor dos músicos que me inspiraram e me fizeram querer aprender a tocar, e Los Angeles é uma cidade que permite isso. Por exemplo, uma das minhas primeiras aulas no LACM, “Intro to Performance”, tinha como baixista o Philip Bynoe (Steve Vai, Nuno Bettencourt, Tony McAlpine, Slash).
A experiência de viver de música aqui tem sido muito bacana, com certeza não faltam oportunidades para tocar. Há muitas casas de show, bares, restaurantes e cafeterias que tem música ao vivo pelo menos 5 vezes por semana e são super acessíveis de tocar.
Além de tocar ao vivo, sempre gostei muito de ensinar, então desde que me formei tenho ensinado bastante por aqui. Dou aulas em duas escolas de música, com uma média de 20 alunos no total.
Quais as diferenças você poderia citar entre o mercado americano e o brasileiro?
Em relação a educação musical, percebi que a cultura de aprender um instrumento é bem mais forte aqui. A quantidade de escolas de música é enorme e a estrutura das escolas são excelentes. Outra grande diferença é fato do mercado musical e de equipamentos dos EUA, ser sem dúvidas, muito mais justo e competitivo que o Brasil.
Algo interessante que acontece por aqui, é que muitas vezes você e um dos seus “guitar idols” acabam disputando uma vaga na mesma gig. No começo desse ano, recebi uma ligação para fazer um teste de uma gig para a marca Roland. Mandei o meu material e fiquei na expectativa. Alguns dias depois, me ligaram agradecendo e falando que eles tinham escolhido outra guitarrista. Fui saber depois que a guitarrista que eles escolheram era a Orianthi, me senti honrada por ter sido considerada para a mesma gig que ela.
Hoje você é endorse das marcas Daisy Rock Guitars, Spectraflex e Steve Clayton Picks. Como surgiu essas parcerias?
Pra mim é uma honra trabalhar com essas marcas. As parcerias com a Daisy Rock, Spectraflex e Steve Clayton Picks surgiram a partir da NAMM desse ano. Conheci as marcas, conversamos, comecei a usar os produtos como um test-drive e me apaixonei. Desde então oficializamos a relação e tem sido demais trabalhar com cada uma dessas marcas!
O meio “guitarristico” sempre teve mais homens do que mulheres, o que não significa que as mulheres não representem bem o instrumento. Voce acha que essa diferença e algum tipo de “tabu” ou apenas uma questão de ordem natural?
Desde que comecei a tocar eu me acostumei com a idéia de que 90% das vezes, eu seria a única mulher- ou uma das únicas- em qualquer situação “guitarristica”. Por exemplo, na minha turma no LACM eu era a única entre 18 alunos.
Acho que não é “tabu”, só acontece muitas vezes de forma mais natural para os homens. Por exemplo, é muito comum para os pais colocarem meninas em aulas de balé/canto e meninos em aulas de futebol/guitarra/bateria. Com isso, muitas meninas acabam não tendo muita exposição à guitarra. Pelo menos foi o que aconteceu comigo, só fui “conhecer” a guitarra aos 16 anos.
Acredito que as mulheres têm a mesma capacidade e potencial que os homens de se tornarem excelentes guitarristas. Jenniffer Batten, Bonnie Raitt, Lita Ford, Orianthi, Nita Strauss e Mimi Fox são alguns exemplos disso.
Quais tem sido seus projetos atuais?
Estou tocando em vários projetos, entre eles Lavish, Organika e o meu projeto solo instrumental. O bacana é que cada um tem uma pegada bem diferente, sempre aprendo e me divirto muito tocando com cada um deles! Lavish é uma banda só de mulheres indie rock, Organika é um duo acústico e meu projeto solo é rock-blues instrumental.
E planos futuros?
Eu estou gravando o meu primeiro CD instrumental, que será lançado em março de 2015. Esse tem sido meu foco principal, estou muito empolgada e na expectativa de compartilhar a minha música através desse álbum! O lançamento do CD será seguido de uma turnê para promovê-lo, aqui nos EUA e no Brasil. Estou contando os dias para tocar o material e novo e principalmente, para tocar no Brasil!