Nelson Faria – Partitura sem Mistério (Por Rafael Ferraz)
Alguns músicos se destacam na área prática, outros na área didática, e outros ainda conseguem realizar muito bem as duas funções. Nelson Faria com certeza pertence a este último grupo. Com uma longa e muito bem sucedida carreia nos palcos e estúdios, ele também é dono de um belo currículo de livros didáticos. Voltado para o público que precisa dar aquele “upgrade” na leitura, o livro “Leitura Musical Para Guitarristas e Violonistas” é o mais novo lançamento de Nelson. Com uma metodologia extremamente funcional, esse livro vai te surpreender, tamanha a sua eficácia. Para quem é autodidata ou para quem dá aulas, esse livro já pode ser considerado uma ferramenta indispensável. O músico nos conta, nessa entrevista, todos os detalhes sobre o livro e sobre como ele mesmo desenvolveu seus estudos de leitura, entre outras coisas.
Antes de falarmos do livro especificamente, conte-nos como foi o seu aprendizado pessoal com relação à leitura.
Meu contato com o estudo da leitura em si, foi muito superficial desde o inicio. Comecei como autodidata, aprendendo violão com meus irmãos mais velhos e depois estudei com o Sidney Barros (Gamela) que me ensinou muito de música e de violão, mas nada de leitura. Quando fui para os EUA estudar música aos 19 anos, o meu foco era aprender improvisação e jazz e por isso também deixei meio de lado o estudo da leitura. Comecei mesmo a me esforçar para aprender leitura quando comecei a encontrar nos trabalhos que fazia, linhas melódicas para ler (em gravações ou nos ensaios para shows) e senti na prática minha deficiência. Entendi que se não tivesse uma leitura mais fluente teria problemas para levar minha carreira a resultados que eu queria, então comecei a procurar por métodos que pudessem me ajudar.
A leitura é sem dúvida o grande “calcanhar de Aquiles” para a maioria dos guitarristas. Por qual motivo você acha que existe tamanha dificuldade com esse assunto?
Acredito que são vários os motivos. O primeiro deles é que normalmente a função do violão e da guitarra é de instrumento acompanhante e as partituras são na sua maior parte cifradas. Os solos, normalmente são improvisos, então nós colocamos como prioridade o estudo da leitura de cifras e o estudo da improvisação. Além disso, o guitarrista e o violonista normalmente inicia seu contato com a música tocando de ouvido , diferente dos que iniciam em instrumentos de orquestra. Outra razão é que no violão e na guitarra uma mesma nota pode ser tocada em diversos lugares diferentes. Uma mesma frase tem as vezes 10 ou mais diferentes possibilidades de digitação. Isso talvez seja o motivo mais decisivo para que nós guitarristas tenhamos dificuldade em relação a leitura.
Como e por que você decidiu lançar esse livro específico sobre leitura?
Desde 2010 sou professor da Universidade de Örebro, na Suécia, e lá montei um grupo de estudo de leitura com meus alunos. Comecei então a produzir exercícios de leitura com dificuldade gradativa, acrescentando as diferentes figuras rítmicas e melódicas para executarmos em grupo, em uníssono ou a 2 vozes . Esses exercícios foram a base para o que veio a ser o livro “Exercícios de leitura para guitarristas e violonistas”
Seu livro é extremamente didático e funcional, com uma abordagem na qual é fácil o estudante obter um bom resultado. Como você chegou a essa visão sobre o assunto?
Entendi que um dos problemas para se desenvolver uma leitura fluente é se preparar para as “surpresas” que encontramos durante um texto musical. Resolvi então escrever esses exercícios de forma que as novidades fossem apresentadas aos poucos e que pudessem ser anunciadas antes de começarmos a leitura. Desta forma, novidades deixam de ser “surpresas” e isso faz com que a leitura seja fluente.
No início do livro você explica de forma detalhada vários pontos que muitas vezes passam despercebidos por nós músicos, como a idéia de visualizar as combinações de figuras rítmicas como se fossem palavras, de modo a facilitar a leitura à primeira vista. Qual caminho você percorreu até chegar nessas conclusões?
Sempre entendi a música como uma linguagem. Entender as frases melódicas ou rítmicas como “palavras” faz com que desenvolvamos nosso vocabulário musical, tornando nosso discurso e nossa leitura mais eficiente.
Como tem sido a recepção e a resposta do público com relação ao livro?
Acredito que este livro vem preencher uma lacuna no ensino da leitura. A quantidade de exercícios contidos no livro, somado a forma com que os exercícios estão organizados e o feedback que tenho recebido das pessoas, tem feito deste livro talvez um dos mais bem aceitos que eu já escrevi.
Você é músico com uma carreira extensa e muito vitoriosa, tanto nos palcos e gravações como na estruturação de materiais didáticos. Como é sua organização para conseguir realizar todos esses trabalhos com tamanha qualidade?
Minha agenda é cheia e estou sempre em tournés e viajando. Amadureço sempre as idéias na cabeça antes de escreve-las. Quando sento pra escrever, basicamente, na minha cabeça, o livro já está pronto. Então aproveito cada momento livre pra ir colocando as idéias no papel. Meus livros foram escritos em sua maior parte em quartos de hotel e nas longas viagens de avião.
Em quais locais o público pode encontrar o livro para comprar?
Meu s livros são editados e distribuídos pela Vitale editora. Normalmente você pode encontrar nas grandes lojas de livros ou lojas onde se vendem instrumentos musicais mas, o mais fácil é encomenda-los via internet nos siteswww.vitale.com.br ou www.freenote.com.br