Marcelo Souza e o “Circle of Fire”(por Gabriel Beider)


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Com muita maturidade e talento, Marcelo Souza conta a Gabriel Beider como foi o processo de seu primeiro trabalho intitulado Circle of Fire e nos conta como se faz para dosar frases precisas e velozes com bom gosto

Marcelo, conte um pouco sobre seu primeiro contato com a música e as principais bandas e/ou guitarristas que te influenciaram.

Meu primeiro contato com a música foi aos 12 anos. Nessa época, um tio meu me mostrou algumas bandas como Led Zepellin, Black Sabbath, Deep Purple, Iron Maiden, Metallica e Guns n ́Roses. Pirei ouvindo o som destas bandas e comprei meu 1o violão, um Trovador da Gianini já usado e bem surrado, vivia tocando com alguns amigos na redondeza, mas só fui estudar sério aos 15 anos tendo aulas particulares de teoria e logo em seguida violão clássico na escola de artes Maestro Fêgo Camargo (Taubaté-SP).

Nesta época, já estava tocando guitarra e ouvindo alguns dos grandes guitarristas que me influen- ciaram como Yngwie Malmsteen, Paul Gilbert, Vinnie Moore, Petrucci, Vai, Satriani etc, tirava tudo de ouvido e comecei a acompanhar vários artistas importantes na minha região e a tocar em bandas de estilos variados para todos os lados, já começando minha carreira profissional. Em 2003 me matriculei na Faculdade Santa Cecília de Pindamo- nhangaba (FASC) e me aperfeiçoei em estilos que ainda não havia estudado tão a sério como Jazz, Fusion e MPB, me formando em 2005.

Fui convidado a participar de vários eventos tocando com os cantores do “jovens talentos” do programa Raul Gil como Hevelyn Costa, Twiggy e Christian; acompanhei também a cantora Cecília Militão de Jacareí, tocando para milhares de pessoas e grandes shows, o que ajudou a me divulgar como músico.

“Circle of Fire” foi seu primeiro CD. O que te motivou ou inspirou a gravá-lo?

Sempre quis gravar um disco instrumental. Desde o início dos meus estudos sempre ten- tava convencer a galera com quem tocava que tinha que ter uma ou duas músicas instrumen- tais no repertório e isso nem sempre dava certo (risos), mas fui compondo e estudando covers de grandes guitarristas, o que me ajudava a me aperfeiçoar tecnicamente. Assim, já tinha músicas mais do que o suficiente para gravar uns 3 discos e isso foi quando gravei minha 1a demo chamada “Signals” em 2004, porém ainda sem muita qualidade, o que me aborrecia. Foi quando revisei tudo o que tinha de composições e fiz uma prévia do que seria mais tarde o “Circle of Fire” que gravei também em meu home studio, vindo somente alguns anos depois a concretizá- lo num grande estúdio, com uma produção me- lhor, como podem conferir.

Você contou com Maurício Leite (bateria) para gravar esse álbum. Vocês se juntaram apenas para gravar esse CD ou já se conheciam?

Já o conhecia de nome e fui apresentado a ele por um amigo e ex-aluno dele que sugeriu que conhecesse minhas músicas. Então estivemos algumas vezes no seu estúdio para bater um papo, foi quando ele ouviu as músicas e disse que curtiu muito e gostaria de gravá-las. Já topou logo de cara fazer o disco e foi muito legal, realmente provou porque é um dos melhores do Brasil. Além dele, claro, tive o prazer de ter no álbum Felipe Castro e Leandro Manfredi- ni, músicos sensacionais !

Você também trabalha na área didática, certo? Como funciona seu trabalho?

Bom, tenho meu instituto onde leciono atendendo músicos de toda a minha região desde o iniciante até o profissional. Toco todos os gêneros, mas atendo bastante dentro do rock pois me procuram muito para aperfeiçoar a técnica dentro do estilo, além disso toco violão e gosto muito de música brasileira, então tenho muitos alunos que apreciam este estilo também.

Você conseguiu atingir um som bem pesado. Quais foram os equipamentos usados na gravação?

Levei todo o meu equipamento pro estúdio, as guitarras foram uma Gibson Les Paul GOW#33, uma Ibanez Jem 7WH, Fender Strato American Standard, uma signature minha da marca “Lunacy” e uma Samick Les Paul, além dos violões Takamine e um Crafter (aço e nylon). De amplificaroes usei um JMP-1 numa caixa 4×12 da Groove Tubes e um pedal dual overdrive. Como boost, os efeitos, apesar de ter levado todos os meus pedais, usei plug-ins.

As faixas “Circle of Fire” e “No Limits ” con- têm elementos de música erudita e jazz/fusion. Conte um pouco sobre esta “mistura”.

Sim, você tem razão, a música Circle of Fire é uma síntese do que me influenciou desde o início como temas clássicos, trechos com melodia bem marcante ao estilo neo-clássico, seguindo esta atmosfera “Malmsteen”, mas não consigo seguir num caminho tão previsível, tem sempre uns compassos de 7 ou 5 tempos que acabam sugerindo um clima mais progressivo. Uso também muitas modulações, enfim esta tinha que ser uma música de abertura pois chega com agressividade e técnica ao extremo. No caso da No Limits, foi composta em 2004, bem diferente do que ficou na gravação, pois como ao longo dos anos tive a experiência de tocar outros estilos como Jazz, Fusion, MPB e Country, acabei deixando rolar algumas frases “outside” no decorrer da 1a parte do tema e, depois mais pro final, ela evolui para uma pegada mais hard rock.

Também faço num trecho uma pequena homenagem ao Jimi Hendrix, tocando frases do mestre. Tento ser ao máximo espontâneo para não soar somente a técnica, acho chato demais tocar sobre um mesmo clima, ou somente rápido, ou somente lento, tem que ter EMOÇÃO! (risos)

De todas as faixas você tem alguma preferida? Conte um pouco sobre sua composição.

É difícil escolher uma preferida, são como filhos, mas gosto muito da faixa título que abre o cd pois tem ali toda a energia do metal, com trechos de violão em contraponto, dobras, velocidade e melodias marcantes…

Minhas composições surgem naturalmente quando estou estudando, principalmente de ma- drugada, tento reunir elementos de estilos diferen- tes, não me importo tanto com rótulos, então pos- so desenvolver um rock com frases de jazz, música erudita ou chorinho. A música Virtual Nightmares, por exemplo, nasceu de uma ideia mais rítmica pri- meiro, vindo depois a colocar os acordes e melo- dias; além disso não toco guitarra o tempo todo, às vezes tenho uma ideia somente na mente e já vou pro instrumento com ela quase pronta, aperfeiçoando-a conforme vou tocando.

No seu disco você, provou que o metal instrumental pode ser muito musical, ao contrário da ideia de que “velocidade” e a “fritação” não combinam com música, como diz o pre- conceito de muitos críticos por aí. Fale um pouco sobre isso.

Obrigado pelo elogio! A ideia é fazer música, não importa, acho que quando fazemos algo com o coração não há regras. Tentei colocar neste disco tudo o que me influenciou até hoje, da forma que mais me agradou, ana- lisei milhões de vezes antes de gravar, escrevi tudo e ouvi opiniões dos amigos, mudei muita coisa desde o início das gravações. Sobre críticos, nunca liguei para isso, se quiser colocar milhões de notas em um solo, eu coloco, ou se quiser fazer uma melodia apenas com poucas notas, também o faço. Sempre existe alguém para dizer o que tem que fazer e blá, blá,blá…Enfim, o importante é ser feliz e fazer o que gosta, ser verdadeiro. Quero aproveitar e dizer a todos que adquiriram o cd e que apoiam o meu trabalho, muito obrigado!

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