O Jogo da Improvisação (Por Julio Siqueira)
Como vocês se conheceram e como surgiu a ideia do duo?
Ivan Barasnevicius: Convidei o Rodrigo para formar o duo em outubro de 2013.
Sempre gostei de tocar dessa forma. Durante a primeira fase da Venegas Music TV (programa feito para a web que apresentei, em sua primeira fase, entre julho de 2008 e julho de 2012) pude tocar bastante neste formato com diversas pessoas diferentes, tais como Heraldo do Monte, Nelson Faria, Luciano Magno, Arismar do Espírito Santo, entre muitos outros. A partir destas experiências, pensei em desenvolver esta ideia com mais profundidade, trabalhando músicas próprias e desenvolvendo arranjos específicos para elas. Em um primeiro momento, trouxemos para o duo algumas músicas que já existiam, depois de um certo tempo, passamos a compor diretamente para esta formação, buscando resolver os problemas que eventualmente o trabalho somente com duas guitarras acústicas pode acarretar.
E quanto ao estilo de tocar, quais são as diferenças entre vocês?
Ivan Barasnevicius: Um ponto que me parece relevante é que costumo ter mais intimidade com os arranjos em bloco, talvez pelo fato de ter estudado violão por um bom tempo paralelamente aos estudos guitarrísticos. Gosto de utilizar diferentes técnicas para “Chord Melody” e apliquei este tipo de expediente em vários momentos nas gravações do duo. No primeiro trabalho, “Novos Caminhos”, poderia citar a peça solo “Sente o Sete”, no segundo disco, algo parecido acontece com o começo de “Tema pro Caguaçu”. No terceiro trabalho, teremos outros exemplos disso que estou citando. Gosto também de pensar de forma mais horizontal no braço do instrumento, muitas vezes utilizando apenas uma ou duas cordas. Seria, de certa forma, uma influência dos materiais de Mick Goodrick e John Abercrombie que estudei anteriormente, e que acabaram me influenciando bastante. Gosto da uniformidade timbrística que acaba acontecendo quando tocamos uma melodia em apenas uma corda, além do fato de que o pensamento melódico acaba fluindo por outros caminhos: quando utilizamos apenas uma corda, não é possível recorrer a padrões ou frases de bebop, o pensamento acaba sendo muito mais musical, na minha opinião.
Rodrigo Chenta: Acredito que somos completamente diferentes ao tocar. Cada um tem um jeito bastante particular e com sutilezas próprias. Toco de forma mais dura e seca o que interfere no meu timbre. Procuro me arriscar um pouco mais nos improvisos o que pode dar certo ou não , já que segundo o compositor canadense Raymond Murray Schafer, “… estamos errados ao esperar sempre uma execução perfeita numa improvisação”. Gosto de gravar com microfones na frente da guitarra, pois assim, tenho uma sonoridade bem peculiar.
Vocês estão lançando um CD chamado “Antítese”, que, diga-se de passagem, eu já ouvi várias vezes. Parabéns! O disco tem melodias e harmonias muito bonitas, vocês tiveram muito bom gosto na hora de compor.
Eu gostaria que vocês nos contassem um pouco sobre esse processo, de onde vieram as ideias e inspirações?
Ivan Barasnevicius: É sempre complicado relacionar elementos musicais com situações ou sensações. Acredito tratar-se de algo bem arbitrário. Em “O Belo Musical”, Eduard Hanslick já discutia sobre este tipo de questão em meados do séc. XIX. De qualquer forma, alguns dos títulos são inspirados em situações reais. Por exemplo, “Faça-se a luz” foi feita em um dia em que fiquei sem energia no meio da tarde e num momento em que estava com um monte de pendências para resolver.
Resultado: não consegui resolver nenhuma destas pendências, rs…. A única coisa possível, com o pouco de luz do dia que ainda restava, era pegar a guitarra acústica e estudar alguma coisa. Escrevi este tema assim, com a guitarra desligada, caderno e lápis.
Rodrigo Chenta: Tanto o álbum “Antítese” como o “Novos Caminhos” foram o resultado de um ano de preparo cada um. Neste período ensaiamos semanalmente e testamos vários elementos nas músicas. Os arranjos se transformam a cada vez que tocamos as peças até que chega a hora de “fotografar” o momento em questão.
As ideias surgem naturalmente e vamos as experimentando e vendo o que funciona ou não. Quanto a isso o duo consegue trabalhar bem o fato de algumas ideias serem aproveitadas e outras descartadas.
Sobre as inspirações existem dias que estamos mais afim de tocar e compor e outros nem tanto. Isso é normal. No meu caso as músicas surgem do nada e em momentos diversos. Não existe um padrão.
Tanto o “Antítese” como o “Novos Caminhos” que foi o primeiro disco são bem ecléticos, as músicas caminham por vários estilos diferentes, isso foi proposital?
Ivan Barasnevicius: Não foi algo proposital, porém conforme as músicas foram surgindo, fomos percebendo as principais tendências: algumas músicas possuem grande influência da música mineira dos anos 1970, mais exatamente do “Clube da Esquina”, tais como “Nove Horas”, “Faça-se a luz”, outras têm como referência músicos como Derek Bailey, como em “Antítese” e “Suite #1(For Derek Bailey)”. Em outros momentos utilizamos fórmulas de compasso pouco usuais, como em “Novos Caminhos 2” e “Fritando Panqueca”. Assim, conforme fomos ensaiando as peças, percebemos que algumas destas tendências eram recorrentes, mas certamente não foi algo planejado.
Rodrigo Chenta: As composições surgem naturalmente e no caso do duo não existe uma preocupação de fazer obras pensando neste ou naquele gênero e estilo.
Elas simplesmente saem. No entanto, procuramos não fazer um disco que soe monótono no sentido pejorativo desta palavra, pois existem gêneros que o são assim por essência como o minimalismo ou new age, por exemplo, e são muito interessantes. Gostamos de coisas diversas e procuramos isso ao escutar os nossos álbuns gravados.
Além disso, vocês também experimentam muito, o tema que dá nome ao disco “Antítese” ou Contrastes do “Novos Caminhos”, por exemplo, tem uma mescla de sons bem diferentes, de onde veio essa ideia?
Rodrigo Chenta: Esta influência vem de experimentações realizadas por músicos que ouvimos como o guitarrista inglês Derek Bailey, por exemplo. O segundo movimento da “Suite for Derek Bailey”, obra do Ivan e dedicada ao músico citado, usa exatamente a técnica de harmônicos muito comum neste pioneiro da experimentação livre na guitarra acústica. No caso da “Antítese” é um jogo de improvisação e na “Contrastes”, já é uma improvisação mais solta e sem regras demarcatórias. Os jogos de improvisação possuem uma relação de anti tese com as músicas de influência mineira e as demais obras na onda do álbum “Novos Caminhos”.
Como é o processo de gravação de vocês? Como vocês definem quem toca o que?
Ivan Barasnevicius: Gravamos tanto “Novos Caminhos” quanto “Antítese” totalmente ao vivo e juntos, porém em salas separadas. Dessa forma, existe uma interação real durante a gravação, pois estamos realmente ouvindo um ao outro. O som da minha guitarra tem muito mais presença do amplificador microfonado, enquanto que o som do Rodrigo utiliza muito mais o som da guitarra microfonada.
Dessa forma, ao contrário da maioria dos duos desse tipo, que têm a uniformidade como foco, buscamos o contraste timbrístico como característica. Com relação aos arranjos, esse é um processo de vem de muito antes da gravação: antes de chegar no estúdio, passamos um bom tempo experimentando ideias e fazendo alterações se necessário. Acreditamos que o processo de ensaio com regularidade é muito importante para o amadurecimento da nossa sonoridade e também para quepossamos desenvolver bastante a qualidade da execução das músicas. Dessa forma, as sessões de gravação têm sido bastante rápidas, o que na minha opinião contribui bastante para que possa ser tirada a mais fiel “foto” daquele momento do duo.
Rodrigo Chenta: Ao gravarmos pensamos na diferença timbrística. Para isso ficamos em salas separadas para que não haja vazamentos. Minha sonoridade vem da mistura de som de amplificador microfonado, mais linha e microfones na frente da guitarra. Estes últimos sendo o principal na definição do timbre. Isso para alguns pode causar uma confusão ao pensarem que se trata de um violão com encordoamento de aço. Muitos guitarrista já gravaram assim como Joe Pass, Derek Bailey, Biréli Lagrène e outros mais. Gosto desta proposta e me sinto bem tocando com este som, mas ao gravar desta maneira, se assume a possibilidade de junto com as notas virem alguns ruídos indesejáveis devido ao grande número de microfones para captar o som natural do instrumento. Exemplo disso é a minha respiração presente em vários solos improvisados, movimentações de cadeira, tapas que o Ivan dá na guitarra ao tocar, etc.
O primeiro disco tem alguns temas com referências femininas, “Tema para Pietra”, “Valsa para Ana”, “Minha Neném” e “Mulher Brava”. Por que, elas ficaram de fora do disco novo?
Ivan Barasnevicius: A “Valsa para Ana” fiz como uma homenagem para a minha mãe, Ana Nilce. Comecei a escrever ela por volta de 2003, se não me engano, mas fui terminar o arranjo para o “Ivan Barasnevicius trio” por volta de 2010. Isso é comum, determinados arranjos demoram um pouco para serem concluídos …. (risos). Posteriormente, achei que deveria fazer um arranjo para tocar em duo, pois me parece que ela funciona muito bem neste formato. É uma composição que gosto bastante de tocar com o duo, pois possui mudanças rápidas de acordes, o que torna a improvisação uma tarefa não muito fácil, mas altamente estimulante. Já havia gravado esta música no primeiro disco do “Ivan Barasnevicius Trio”, “Síntese”, lançado em 2012, mas sempre gostei de tocar ela com apenas duas guitarras.
A faixa “Tema para Pietra” foi feita no início de 2014. Fiz essa música para a minha filha, que nasceu nesse mesmo ano. Curiosamente, comecei esta composição pela parte B. Pensei em fazer algo inspirado em algumas faixas que gosto bastante do Clube da Esquina, tais como “Tudo o que você podia ser” e “Clube da Esquina n° 2” e que são bastante importantes na minha formação enquanto músico. Ou seja, a base lembrando um violão de aço sendo utilizado de forma bastante rítmica e uma melodia simples, até rústica de certa maneira, mas que fosse muito cantável. A parte A, mais “funkeada” foi feita para que soasse bastante contrastante com relação ao B e é composta por uma melodia cheia de pausas e “blue notes”.
Mas tanto ter incluído estas duas peças com referências femininas em “Novos Caminhos” como o fato de isso não ter se repetido em “Antítese” foram coisas naturais, e não algo préestabelecido.
Entretanto, uma nova peça com este tipo de referência será gravada no terceiro disco: “Débora”, uma peça onde uso a guitarra acústica de forma mais violonística e com uma afinação diferente, do grave pro agudo: DADGBD.
Rodrigo Chenta: Esta é uma das várias anti teses presentes no álbum “Antítese”.
Em “Novos caminhos” houveram algumas homenagens à mulheres importantes na vida do duo. No caso de “Minha Neném” e “Mulher Brava” ao escrevêlas, dediquei à minha esposa que já me inspirou a compor várias músicas.
Uma coisa que sempre me deixa curioso é o nome dos temas para música instrumental, vocês podem falar um pouco sobre o processo de dar nomes às musicas?
Ivan Barasnevicius: Para citar alguns exemplos das minhas peças, os nomes podem refletir a situação em que a peça foi composta: Por exemplo, no caso de “Nove horas”, estava caminhando em direção ao trabalho num dia ensolarado às nove da manhã e pensando em fazer na estrutura de uma música com o compasso de nove tempos. Já no jogo de improvisação “Crossfades” o título reflete a regra principal do jogo: fazer uma série de crossfades, porém tocando de verdade, não se trata de manipulação no estúdio. O primeiro propõe uma idéia musical e o outro
deve responder com outra totalmente contrastante, subindo o volume aos poucos, enquanto o primeiro aos poucos vai diminuindo. Já “Suite #1 (For Derk Bailey)
trata-se de uma sequência de três movimentos onde busquei aplicar algumas das técnicas não convencionais utilizadas por este guitarrista, que gravou mais de 100 discos.
Rodrigo Chenta: Tratandose de música instrumental este processo é sempre subjetivo. Ao decidir os nomes procuro uma palavra ou expressão/frase que tenha a ver com o momento em que a obra foi concebida e isso às vezes gera alguns nomes incomuns como “Fritando panqueca” e “Mulher brava”, por exemplo.
O que são os jogos de improvisação e como isso funciona no trabalho de vocês?
Rodrigo Chenta: Os jogos são brincadeiras saudáveis. O guitarrista Olmir Stocker (Alemão) sempre me dizia que a improvisação é uma brincadeira. Cada jogo tem um regra bem específica. No caso da música “Crossfades”, jogo criado pelo Ivan, a brincadeira é tocar literalmente qualquer complexo sonoro de preferência tenso e trabalhando sempre as dinâmicas de crescendo†e diminuendo¨†onde enquanto uma guitarra atinge o pico de intensidade e começa a diminuir o volume a outra inicia e faz o mesmo processo. Tudo isso foi executado na mão e não no processo de mixagem como alguns poderiam imaginar. Na música “Quartais” criei a regra de usar somente acordes construídos com intervalos de quarta seja justa ou aumentada e criar períodos musicais contrastantes. Na “Antítese”, faixa título, eu toco uma tese e o Ivan toca a anti tese. Quando criei este jogo propus fazermos contrastes de nota, ritmo, timbre, andamento, textura, técnicas estendidas, dinâmica, etc. Isso não tem nada a ver com a música “Contrastes” que não é um jogo e sim improvisação livre. Quando digo livre não é no sentido de gênero já que é possível identificar alguns idiomas nela. É livre no sentido de ser criada no momento da execução sem a preocupação com forma, tonalidade, andamento, rítmo, chorus ou qualquer outro elemento estrutural.
Qual equipamentos vocês usaram nas gravações?
Ivan Barasnevicius: Em ambos os discos, utilizei apenas uma guitarra acústica que possui corpo de média espessura, equipada com um encordoamento liso de medida .011”. O disco foi gravado inteiro utilizando somente o humbucker do braço. Não costumo utilizar os “tones” da guitarra fechados, como muitos guitarristas de jazz costumam fazer. Sempre preferi uma sonoridade mais aberta. Na maior parte do tempo utilizei palhetas bem grossas, entretanto em outros momentos toquei utilizando a técnica do “pizzicato”. No primeiro trabalho gravado,“Novos Caminhos ”, fizemos 3 sessões de gravação, e em duas delas gravei com um amplificador valvulado, e em uma delas com um amplificador transistorizado. No segundo, “Antítese”, usei somente um amplificador transistorizado de 130w com dois falantes de 12”.
Procurei também, de alguma maneira, diferenciar a concepção dos equipamentos utilizados para o duo quando comparados com os equipamentos que costumo utilizar quando toco e ensaio com o “Ivan Barasnevicius Trio”. Neste último, uso guitarras de corpo sólido, além de um multiefeito onde costumo programar chorus, phaser, delay e alguns tipos de distorção e simulação de cabeçotes e caixas de som. Devo dizer que gosto bastante desta diferença entre os trabalhos, pois posso explorar diferentes aspectos em cada situação.
Rodrigo Chenta: Usei uma guitarra acústica (hollow body) com corpo de 16” com o captador humbucker no grave (braço) e tonalidade na metade. Nesta gravação atuei com encordoamento 0.13 liso (flat) com ação de cordas altas para ter a pegada e timbre que almejava no momento. Em relação ao amplificador gravei com um transistor de um autofalante de 12 polegadas e usando palhetas de 1.11mm de espessura.
Vocês são patrocinados por alguma marca?
Ivan Barasnevicius: Tenho o apoio do luthier Renato Olivieri, que faz a manutenção das minhas guitarras, baixos e violões.
Rodrigo Chenta: Atualmente não temos a apoio de nenhuma marca seja de instrumento, equipamento ou acessório. Estamos abertos para negociações desde que seja uma troca justa para todos os envolvidos. Infelizmente é muito difícil conseguir este tipo de apoio. O que temos e somos gratos por isso é o apoio da escola de música Venegas Music que sempre nos ajuda cedendo equipamentos e espaços para ensaios e concertos.
O que é o Venegas Music TV? Você pode nos contar um pouco desse projeto?
Ivan Barasnevicius: A Venegas Music TV é um programa de entrevistas com músicos. Sua primeira fase, ao vivo, foi numa emissora chamada Justtv e foi apresentado por mim entre julho de 2008 e julho de 2012. Certamente foi uma experiência muito importante para meus estudos, já que pude aprender muito
pesquisando sobre a carreira dos entrevistados e também tocando com boa parte deles. Durante os 4 anos de programa, pude tocar com músicos como Heraldo do Monte, Arismar do Espírito Santo, Itamar Colaço, Andreas Kisser, Djalma Lima, Luciano Magno, Nuno Mindelis, Nelson Faria, entre muitos outros. Em 2016, voltamos à ativa, com algumas alterações para melhorar a qualidade e resolver antigos problemas. Porém, a essência do programa se mantém: entrevistar grandes músicos, promover jam sessions e ajudar a divulgar música autoral de qualidade.
Para visualizar as entrevistas da nova temporada, acesse http://www.youtube.com/ibarasnevicius
Como é ser artista no Brasil, principalmente tocando música instrumental?
Ivan Barasnevicius: Existem muitas dificuldades. Para qualquer músico que você perguntar, certamente ele poderá citar algumas vezes onde não foi bem tratado onde tocou, e isso pode acontecer de diferentes formas: desde um contratante que não sabe fazer a sua parte e não divulga o evento e quer que as pessoas adivinhem que vamos tocar naquele espaço, até aquele cidadão que vai até no show pra ficar conversando na frente do palco, de costas pra você, em voz alta. No primeiro caso, trata-se de falta de profissionalismo, no segundo, falta de educação mesmo, ou seja, dois graves problemas muito frequentes e que assolam o meio musical. Mas estas experiências ruins nos mostram onde não devemos colocar os pés nunca mais.
Rodrigo Chenta: Ser artista no Brasil tem várias desvantagens, pois por mais estranho que pareça e pensando na metrópole de São Paulo, faltam lugares que cedam o espaço para este tipo de manifestação artística. O problema de alguns bares, por exemplo é que dificilmente existe uma relação de igualdade e respeito.
Tem lugar que enquanto acontece o concerto ligam a TV. Isso é um absurdo e grande falta de respeito sem contar que no momento do som o falatório das pessoas sem nenhuma educação. Já tocamos em algumas faculdades de música onde vimos o impropério de alguns alunos e uma “coordenadora” com o notebook aberto enquanto nos apresentávamos. O fato de isso acontecer não impede que continuemos com nossa arte. Penso que o ideal é criar espaços respeitosos e procurar parcerias.
Vocês estão trabalhando em outros projetos? Tem outras coisas acontecendo? O que podemos esperar para o futuro?
Ivan Barasnevicius: Além do terceiro trabalho do “Rodrigo Chenta e Ivan Barasnevicius Duo”, estou preparando, junto com Dé Bermudez e Thiago Costa, o terceiro disco do “Ivan Barasnevicius Trio”. A princípio, este será um trabalho mais ousado e experimental, onde utilizaremos materiais menos usuais nas composições e teremos uma ênfase maior nas improvisações, utilizando menos convenções e deixando os arranjos mais abertos. Certamente, será um disco bem diferente dos dois anteriores.
Rodrigo Chenta: Ainda neste segundo semestre de 2016 gravaremos o terceiro álbum do duo que terá uma proposta diferente dos anteriores. Exploraremos temas maiores e abusaremos de suítes com vários movimentos. Terá uma preocupação maior quanto ao timbre no sentido de escolher os lugares da guitarra que soam mais interessantes em cada trecho das peças e de uma forma geral haverá uma sonoridade mais violonística na guitarra.
Paralelamente ao duo gravei um EP com duas músicas com uma proposta bastante experimental e com caráter muito contemporâneo. Está na fase de mixagem e será disponibilizado gratuitamente no formato digital com áudio, encartes em alta resolução e partitura.
Início de 2017 gravarei um full†álbum†solo com músicas regionais brasileiras que escrevi em tempos passados e outras mais atuais. Estou no processo de arranjo das peças que estarão em gêneros como baião, xote, ijexá, samba, guarânia, etc.
O que vocês diriam pra quem está começando a tocar guitarra e tem o sonho de ser músico? Conte para gente um pouco da sua história com a música.
Ivan Barasnevicius: Penso que o principal que o aluno deva ter é procurar estudar o instrumento com seriedade e foco. Atualmente, é cada vez mais difícil as pessoas se concentrarem, já que o número de coisas que tiram a atenção é grande demais.
Também penso ser essencial evitar os atalhos e buscar estudar os assuntos com calma, profundidade e buscando uma orientação adequada. Acredito ser de grande relevância o estudante buscar fazer as coisas na ordem certa: procurar tocar bem tem que ser uma preocupação anterior a se ter uma produção fantástica e equipamentos caros.
Com relação à minha história, comecei a estudar música em 1989, aos 10 anos, e passei por alguns professores particulares. Tive algumas bandas, e posteriormente gravei nos anos 1990 com as bandas Violent Hate e Cisma, e também com o grupo Grooveria Brasil no começo dos anos 2000.
Me formei em 2003 pela FAAM/FMU SP, onde estudei com professores como Paulo Tiné, Zeli, Aida Machado, Marisa Ramirez, Orlando Mancini, Paola Picherzky, Abel Rocha e outros. Estudei também arranjo com o trombonista Vittor Santos e também baixo elétrico com Nilton Wood. Entre 2003 e 2006 fiz parte a
Orquestra Popular Brasileira, sob a Regência de Paulo Tiné, atuando como violonista e também arranjador.
Sou coordenador didático do CENTRO MUSICAL VENEGAS MUSIC, lecionando também guitarra, baixo elétrico, harmonia e improvisação. Em 2006, tive meu método “Harmonia para Contrabaixo” publicado pela editora HMP, sendo que o mesmo fez parte de uma coleção chamada “Toque de Mestre”. Fiz parte da revista COVER BAIXO publicando mensalmente uma coluna sobre harmonia e improvisação por quatro anos. Em 2009 lancei o livro “Jazz: Harmonia e Improvisação” pela editora Irmãos Vitale.
Com meu grupo de música instrumental “Ivan Barasnevicius Trio” lancei dois discos digitais: “Síntese” (2012) e “Continuum” (2014). Em 2015 fizemos o single “Minuano”, com um arranjo bem específico para este conhecido tema de Pat Metheny. Com o “Rodrigo Chenta e Ivan Barasnevicius Duo” fiz dois discos também digitais: “Novos Caminhos” (2015) e “Antítese” (2016).
Rodrigo Chenta: Penso que deva existir seriedade, pois música é como qualquer outra área e necessita de muito estudo. Ser músico é uma coisa linda e sempre apoiarei quem assim o quiser ser, mas ser músico profissional é outra coisa. Se quiser trabalhar com isso deverá estudar e definir que área quer seguir, pois existem várias como docência, editoração de partituras, músico de concerto, músico de estúdio, etc. O problema é que na realidade brasileira o profissional tem que fazer de tudo um pouco para sobreviver e isso pode defasar algumas áreas em relação à outras.
Comecei na música aos 14 anos e ao decidir trabalhar como músico profissional nunca tive o apoio familiar, o que em vez de ajudar só piorou o difícil processo na carreira musical. Existe muita informação errada e preconceitos. Hoje quem não me apoiava no passado entendeu que é possível atuar nesta profissão, pois estou muito melhor em relação ao conforto na vida do que estes que menosprezavam minha escolha pela área.
Me formei na antiga ULM (Universidade Livre de Música) e na FASCS (Fundação das Artes de São Caetano do Sul). Passei por festivais de música como os de Ourinhos, São Caetano do Sul, etc. Nos estudos acadêmicos fui aluno especial para o mestrado em instituições como UNESP e USP durante dois anos.
Onde o disco pode ser encontrado? Vocês têm apresentações marcadas?
Ivan Barasnevicius: Nossos discos, sempre no formato digital, podem serencomendados com a gente diretamente através do nosso site. Mas estamos também em um grande número de lojas virtuais, como Amazon, Cd Baby, Itunes, entre outras. Com relação às apresentações do duo, costumamos sempre divulgar em nossa página no facebook.
E para quem quiser saber mais sobre o trabalho e a carreira de vocês?
Rodrigo Chenta: É possível obter mais informações através do nosso site em www.rodrigochentaeivanbarasneviciusduo.com e nas redes sociais que o duo participa. Também cada um dos integrantes do duo possuem sites próprios e perfis em redes sociais como Facebook, Youtube, Soundclound, Linkedin, etc.