Ele é a Bossa (Por Júlio Siqueira)


Roberto Menescal é um dos fundadores da Bossa Nova, ele também é um dos compositores mais importantes da música brasileira, suas canções são consideradas hinos e estão espalhadas por todo o mundo. Confira abaixo a transcrição da entrevista que ele gentilmente deu ao Guitar Experience. 

 

Roberto Menescal #1GtrExp.: Hoje eu tenho a honra de conversar com uma lenda da música brasileira. Boa noite, Roberto Menescal, muito obrigado pela oportunidade, tudo bem?

R.M.: Boa noite, prazer, tudo bem! Tudo andando muito bem graças a Deus!

GtrExp.: Antes de mais nada eu queria pedir um “alô do Roberto Menescal” para o Guitar Experience. 

R.M.: Com o maior prazer rapaz! Eu tenho que entrar nesse site, né?

GtrExp.: Ah sim, por favor!

R.M.: A guitarra pra mim é aquele trenzinho elétrico, aquele brinquedinho que a gente tinha quando garoto, sempre que eu posso eu entro nas reportagens, eu não tenho a oportunidade de ser rato de lojas, então é através dos artigos que eu tomo consciência do que está saindo de novo, de quem são as pessoas. E eu graças a Deus tenho vários amigos que são guitarristas, que são amigos através de contatos por sites e revistas.

O Guitar Experience vai ter mais um amigo certamente! Eu sou fascinado por guitarra, o instrumento em si, eu fico louquinho com ele. É uma pena que eu acabei de guardar a minha guitarrinha nova, é uma Sadowsky. Como eu vou viajar amanhã cedinho para a Bahia, ela já está trancada.

Diga ai ao grupo do Guitar Experience que eu vou me juntar a vocês, certamente! Vocês vão ver!

GtrExp.: Muito obrigado. 

GtrExp.: Eu posso te chamar de você?

R.M.: Por favor! Se não você não vai ter respostas!

GtrExp.: Eu também sou fascinado por guitarras, e estudo com o André Martins que me mandou algumas perguntas quando soube que eu iria conversar com você.

R.M.: O Andy Summers, do The Police, tem um estúdio em Los Angeles, eu perguntei pra ele, Andy, quantas guitarras você tem? E ele disse, estão todas no estúdio, as minhas preferidas são 155, ele tem um cara que passa a vida inteira afinando e limpando essas guitarras.

GtrExp.: E você tem quantas guitarras?

R.M.: Rapaz, não sei, mas não tenho muitas, tenho umas boas, acho que guitarras elétricas são 6, 2 Gibson, eu tenho uma Gibson boa que é de 1958, é um modelo que eles fizeram somente 100 guitarras na época e eu não sei nem o nome, mas não é um modelo conhecido.

GtrExp.: Você tem uma 335?

R.M.: A 335 é muito grande pra mim, as pessoas vão dizer, quem é aquele cara atrás daquela guitarra?

GtrExp.: A 339 é menor…

R.M.: Olha aqui, (me mostrando a guitarra), a 339 é muito boa! Agora a Sadowsky pesa 1,5 Kg, eu não tenho mais saco para usar aquelas Gibson que pesam 6 Kg. Agora violão, eu não tenho nenhum bom, eu tenho alguns razoáveis de nylon e os de aço eu quase não uso. Tem um lá no estúdio que é bonzinho mas eu não sei nem a marca, mas eu gosto mais das guitarras semiacústicas, eu vi uma guitarra semiacústica da Godin e provei, achei muito legal.

Olha, diga ao André que eu leio todos os artigos dele, eu o sigo mensalmente pela Guitar Player.

GtrExp.: O André um cara muito bacana, além de professor e amigo ele é meu psicólogo, risos.

R.M.: Ele é um guru, porque além da guitarra ele vê outros aspectos, eu acho muito bacana, não é apenas o instrumento, ele tem toda uma filosofia.

GtrExp.: Como começou a sua história com a música?Roberto Menescal #3

R.M.: Eu comecei tarde Júlio, eu peguei no violão pela primeira vez aos 17 anos, eu tocava acordeão e um pouco de piano, de ouvido, mas quando peguei no violão, eu estava em férias no Espirito Santo quando apareceram dois caras do Rio com os violões nas costas e dizendo, … cadê as meninas? As meninas eram muito bonitas por lá.

No dia seguinte eu já estava fazendo uns acordes, eu fiquei louco com aquilo. Com 18 anos eu recebi um convite maravilhoso de uma cantora que partiu muito cedo, a Sylvinha Telles, toda semana eu ia ver um show que ela fazia aqui no Rio e num dia ela me chamou para saber quem eu era, já que eu estava lá toda semana, dai descobrimos que morávamos há dois quarteirões de distancia em Copacabana, ela me convidou para a casa dela para tocarmos um pouco, eu ainda estava começando mas ela disse que gostava da minha pegada, e me convidou para fazer uma turnê pelo Brasil, eu disse que não podia, pois ainda estava começando. Ela me disse que estava gravida e que teria o bebe em 4 meses e depois disso teria mais 3 meses de resguardo e que teríamos 7 meses para ensaiar, nós ensaiamos e saímos em turnê, quando voltamos eu já era meio profissional.

GtrExp.: Você chegou a ter aulas ou aprendeu tudo sozinho?

R.M.: Foi tudo de ouvido, mas quando voltamos da turnê ela disse que eu precisaria ter aulas, não de violão mas de música e disse que iria me arrumar um professor maravilhoso, e eu fui ter aulas com o Moacir Santos, o maestro, que era feito o Andre Martins, que além da música tinha toda uma filosofia. Eu tive um ano de aulas com ele e as coisas foram se abrindo tanto, que eu não podia ficar parado num lugar tendo aulas, eram muitas viagens, e eu acabei não estudando muito. Eu sou canhoto mas toco do lado que todo mundo toca, era uma dificuldade, eu não tinha violão quando comecei e eu tinha que pegar o violão do outro como estava,  acabei me acostumando, mas até hoje  não consigo tocar de palheta, eu tentei varias vezes mas não consigo, a palheta cai, então eu não sou um cara técnico, eu fui mais para o lado da harmonia, com harmonia eu acho que me defendo bem.

GtrExp.: Você disse que a Sylvinha Telles gostava da sua pegada, você tem um estilo muito próprio, como você define esse estilo? Ele veio pelo fato de você ter aprendido sozinho?

R.M.: Não, eu acho que é mais pelo fato de eu ser canhoto, eu pensei no que eu poderia fazer direito sem muita exibição. A nossa turma do começo da Bossa Nova ouvia muito Jazz e nós nos dedicávamos muito a harmonia, até chegar um ponto absurdo em que eu me lembro de um amigo meu, Castro Neves que fez uma música e disse, essa ninguém toca, era verdade, mas que vantagem tinha isso? Percebemos que estávamos exagerando, até hoje eu sou um pouco exagerado em harmonia, quando eu toquei junto com o Andy Summers pela primeira vez ele me disse, “cara, com uma música de vocês, eu faço 20!”.

Até hoje é assim, eu toco alguma coisa e digo, opa que caminho bom! Eu vejo gente que toca bem mas de forma exagerada, de maneira que intuitivamente não fica legal, gostamos de coisas sonoras, não é?

(Nesse momento ele pega o violão e começa a tocar um arranjo que fez para a música Manhã de Carnaval)

Então, você sai daquela coisa clichê demais e cria um novo caminho é isso o que eu adoro, é o que eu sei fazer melhor.

GtrExp.: Como surgiu a Bossa Nova e em que momento da sua vida as coisas começaram a acontecer? 

R.M.: Na verdade não tem um começo, foi uma coisa que era a necessidade do momento, apesar de muito bonita, a música brasileira era muito pesada, nós tínhamos 18 anos  e era só …ninguém me ama, ninguém me quer, ou então, …se eu morresse amanhã de manhã ninguém sentiria a minha falta, nós tínhamos 18 anos, pensávamos justamente o contrário e ai começamos a tocar os samba canções usando uma harmonia mais rebuscada, o Ronaldo Bôscoli que era o letrista de muitos de nós, que era um cara mais velho, mais inteligente disse assim, …nós temos a obrigação de jogar essa música pra cima, depois disso ele fez com o Carlinhos Lira (cantando) Era uma vez um lobo mal que resolveu jantar alguém…quer dizer, dai já virou uma coisa mais de brincadeira, você podia até falar uma sacanagenzinha que as mães não entendiam. Nos dizíamos que fazíamos um “samba moderno”, já que não tinha um nome, usávamos “samba moderno”.

Um dia a Sylvinha Telles disse que faria um show no clube A Hebraica aqui no Rio e disse, vocês não querem dar uma canja lá? Era tudo o que a gente queria! Quando chegamos no clube estava escrito assim: Hoje Sylvia Telles e um grupo Bossa Nova. Pensamos que era um outro grupo, eu até perguntei se nós não iriamos atrapalhar. E me disseram, … eu não sabia o nome de vocês e escrevi isso. O Ronaldo Boscoli que estava do meu lado disse que o nome era muito bom e seria nosso. Foi assim que surgiu esse nome.

Nós nos reuníamos quase todos os dias no apartamento da Nara Leão, que também estava começando, com isso foi se formando um grupo, depois o Jobim apareceu querendo saber o que nós fazíamos porque tinham dito a ele que era bom, depois veio o João Gilberto, o cantor Dick Farney querendo gravar as nossas músicas e dai aconteceu.

roberto-menescal-a-bossa-de-menescalGtrExp.: É verdade que a Bossa Nova é tocada baixinho porque vocês ensaiavam no apartamento da Nara Leão?

R.M.: Não da Nara, ela tinha um apartamento grande de frente para o mar, mas naquela época todo mundo queria morar em Copacabana, e se alugavam uns apartamentos na rua Barata Ribeiro que eram 20 por andar, as paredes tinham 3 cm,  os vizinhos reclamavam quando a gente tocava, por isso fomos diminuindo o volume e ficou esse clima da coisa baixinha e intima.

GtrExp.: O João Gilberto já estava com vocês nessa época, quando ele chegou?

R.M.: Já estava, o João chegou bem no começo, ele bateu lá em casa, alguém disse pra ele que eu tocava um pouco, e ai grudamos um no outro.

Eu estou lendo um livro do João que está me deixando impressionado, se chama João Gilberto e nele tem gente do mundo inteiro , os grandes maestros, músicos e cantores falando do João, é lindo. Dá pra ter a medida do que o João significa pro mundo, é impressionante! Tem um crítico do New York Times que fala que o João foi a melhor coisa que surgiu na música no mundo, ele só pode ser comparado ao Frank Sinatra e a Billie Holiday, mas mesmo assim ele é melhor. Eu estou tomando noção do que o João Gilberto significou para o mundo, é muito bacana.

GtrExp.: Esse período era muito rico, de gente muito talentosa que estava preocupada com a arte.

R.M.: É verdade, o Jobim tocava a noite, o Johnny Alf foi um cara que veio antes de todo mundo, um gênio, com harmonias incríveis. Por isso que eu te digo, não fomos nós que inventamos, a coisa começou, vem do João Gilberto, do Jobim, do Chet Baker nos EUA que chegou cantando no clima do João, tinha um cara na França, o Henri Salvador que me fez ir com a Nara durante uma semana toda ver o cara cantar.

GtrExp.: Antes desse período a música era mais formal e a Bossa Nova trouxe mais modernidade.

R.M.: Mais swing também. Eu tocava acordeão e todas as meninas de São Paulo e do Rio também tocavam acordeão, e era aquela coisa pesada. Eu me lembro que eu namorava uma menina e ela me chamou para a festa de fim de ano da escola, no Copacabana Palace, eu cheguei lá e tinham umas 30 ou 40 mulheres, todas de vestido de baile e acordeão, quando elas começaram a cantar eu me mandei e depois disse a ela que o nosso amor era impossível.

A Bossa Nova fez essas meninas largarem o acordeão e passarem a  tocar violão, o violão era mais leve, mais fácil de levar para a casa dos outros e com isso as turmas começam a se armar.

 

GtrExp.: Em 1962 vocês foram convidados para um show no Carnegie Hall.canegie_hall poster

R.M.: Eu juro que eu nem sabia o que era Carnie Hall, eu fui porque a turma ia e muita gente foi pra lá assim. Nós levamos um susto, porque, na hora que eu estava passando com o passaporte e vi uns 7 ou 8 daqueles caras do Jazz que nós ouvíamos, estavam todos conversando, eu voltei e falei, olha que sorte, a gente chegando aqui e os caras aqui no aeroporto e dai a pessoa que estava lá para nos receber disse, eles estão aqui para receber vocês, eu disse não, esses caras não nos conhecem… sim conhecem, eles já estão gravando as musicas de vocês.

GtrExp.: A música brasileira é conhecida mundialmente pela Bossa Nova, não é?

R.M.:  No Japão é uma loucura, é o melhor lugar do mundo pra você tocar, nós temos um mercado muito bom lá fora.

GtrExp.: Melhor do que aqui?

R.M.:  Muito, muito melhor. Por isso que estamos sempre viajando.

GtrExp.: Você tem uma gravadora, um selo chamado Albatroz?             

R.M.:  Eu tenho, mas eu estou meio que acabando, ele estava me prendendo muito, de repente eu vi que todo dia eu teria que estar lá as 9 da manhã e vi quantas coisas estava deixando de fazer por causa disso, eu parei, mas ainda produzimos algumas coisas, eu quero a minha vida agora.

 

GtrExp.: Você também é um ex-executivo da Polygram, como foi essa época?   

R.M.:  Foram 15 anos, eu nem tocava nessa época, parei total, eu não tinha tempo, eu tinha 80 artistas, com 80 artistas você não dorme, não toca, era muito sacrificante, apesar de ter me dado uma experiência fantástica. Eu nem queria saber de violão, nem tinha mais. Foi fascinante, imagina, numa época em que só não estava na gravadora o Roberto Carlos, o resto todo estava, Caetano, Chico, os Baianos todos, Gal, Bethania, Ivan Lins, Jorge Ben, aquilo era fascinante, era um mercado crescente e todos eles faziam sucesso, eu fiquei louco ali, depois, mais tarde, começou a história do jabá e eu disse, eles não precisam de ninguém ligado a música não, eles precisam de um bom negociante, dai pulei fora. Mas levei 15 anos cara, mas foi bom, tudo foi bom.

Eu não sabia nem como era o violão mais, eu voltei e fui direto para o Japão fazer um negócio com a Nara, lá eu comprei um violão, trouxe o violão e um dia o som começou a ficar ruim e pensei, esse violão tem 4 meses só, puxa vida! Eu levei o violão para um cara e ele me perguntou se a bateria era nova, eu disse, o que? Bateria de que? Ai ele me mostrou e disse que era preciso trocar a bateria de vez em quando, risos.

 

me5414_2GtrExp.: Como foi a sua volta para a música?

R.M.: Eu voltei e percebi que estava muito defasado, eu vi um show, com um garoto tocando e disse, esse cara é bom e fui falar com ele, que queria ter umas aulas, e ele me disse, pô o que é isso, eu não posso te dar aulas. O garoto era o Lula Galvão que é um craque do violão, ai tive um mês de aulas com ele, foram umas 5 ou 6 aulas. Depois apareceu o Nelson Faria, eu não sei porque alguém me falou dele, eu queria gravar umas coisas com o violão num estilo meio Jazz, ele também era muito garoto e eu disse que queria ter umas aulas. Era uma dificuldade, ninguém queria me dar aula. Tive mais ou menos um mês de aulas com ele, foi o que eu tive de aulas. Foi muito bom, isso me deu um caminho. Eu sempre tive a coisa de tocar com as cantoras, o Ronaldo Bôscoli falou que eu sou um tremendo rabo de cometa, tá sempre atrás da estrela.  Eu sempre dei sorte de tocar com as cantoras boas, até hoje.

Eu não tenho muito tempo de estudar como deveria, há uns meses atrás eu tive 3 meses de aula com um cara chamado Elton Messias que você certamente não conhece mas vai conhecer, ele é bom, me abriu a cabeça pra umas coisas de fraseado, muito bom. Você vai ouvir falar desse cara. Eu estou muito feliz de ter crescido um pouco.

 

GtrExp.: O Hélio Delmiro diz que todo guitarrista tem que ter um violão por perto, sempre disponível, pra poder ser tocado a qualquer hora e que a pratica do violão ajuda muito na pratica da guitarra, você acha que é assim mesmo?

R.M.: Eu tenho! Você viu que eu fiz assim (e fez um movimento) e já alcancei um violão e depois alcancei uma guitarra, quando eu chego em casa e da tempo de ver o jornal nacional eu pego o violão, eu nem sei o que estou fazendo, mas estou fazendo, fico lá coçando o bichinho.

 

GtrExp.: Você consegue ter alguma rotina de estudo?

R.M.: Não, nenhuma, nunca tive, nem no colégio. Eu era ruim pra burro no colégio, levei muita bomba, porque eu nunca tive uma disciplina de estudo e já vi que não vou ter. Um colega teu ai de São Paulo, ele me conhece muito bem, um dia me ligou e disse, Roberto eu tenho uma pergunta pra fazer. O que você é na música?

Eu disse como? Você me conhece! E ele, conheço mas não consegui definir. Eu respondi que toco um pouco de violão, componho,  faço arranjos, faço produção. E ele, mas nessas coisas, em que você é melhor? Eu disse a ele, nunca pensei nisso, acho que não sou melhor em nada, eu toco violão, não sou um Baden Powell mas toco violão, não sou um Tom Jobim mas faço minhas músicas. Isso me deu a certeza de que eu não vou passar dificuldade nenhuma na música, se estiver ruim isso eu faço aquilo, eu sempre tenho muito trabalho, graças a Deus.

 

GtrExp.: Você disse gostar muito da parte harmônica, mas você também improvisa.

R.M.: Eu improviso um pouco mas eu não tenho técnica de improvisação, os meus improvisos são mais harmônicos e melódicos, eu sigo muito a minha intuição e as vezes saem coisas legais. Eu não sou um músico improvisador, como eu vi o Leonardo Amuedo, aquele sim é um músico improvisador

 

GtrExp.: O que você gosta de ouvir em casa?

R.M.: Eu gosto muito dos discos de Jazz mais antigos, Barney Kessel que é um ídolo pra mim, ele tem um disco com a Julie London que mudou a música no Brasil, nós evoluímos quase 10 anos com esse disco, quando eu o ouvi, chamei o Baden Powell, Oscar Castro Neves, Carlinhos Lyra e mais alguns outros para mostrar esse disco, todos os discos de Jazz eram com bandas grandes e essa tinha só a guitarra e o baixo, nós descobrimos mais de 400 acordes com esse disco.

Eu gravei há quase um ano e vai sair agora aqui no Brasil um disco tipo esse com a Stacey Kent que é uma cantora de Jazz maravilhosa, um dia ela me ligou e disse que resolveu ser cantora por causa desse disco, inspirados por isso, 15 dias depois eu estava em Londres para gravar com ela, fizemos um disco de Jazz com uma música minha que ela quis gravar, o disco se chama Tenderly, vale a pena, eu estou tocando bacaninha lá.

 

GtrExp.: Você também gravou com o Andy Summers, como foi esse encontro?Menescal & Summers

R.M.: Eu fiz um arranjo da música Roxane que é completamente diferente do deles, o que eu fiz é uma espécie de Bossa Blues, ele ouviu e quis saber quem eu era, nós nos encontramos e dai surgiu a ideia de fazermos alguma coisa juntos. Foi uma coisa que para alguns pode ser coincidência mas pra mim são coisas que já estão escritas na vida.

 

GtrExp.: E as suas guitarras, você é patrocinado por alguma marca? Qual é a história deles?

R.M.: Eu fui na Teodoro Sampaio, tem uma loja bem simples, ali antes da esquina principal, quando vi Gibson pendurada, e o vendedor me disse que ela era de um colecionador, eu provei e adorei, a guitarra estava ali me chamando. Numa outra vez, eu estava também procurando uma guitarra e achei uma da Gibson mas era muito grande, uma pessoa que estava lá me reconheceu e ficamos amigos, ele se ofereceu para me trazer uma guitarra menor dos EUA. Depois de uma semana o cara trouxe uma 339 e me deu de presente, em troca eu dei alguns violões para ele. A Sadowsky veio pelo Lelo, que é representante das cordas La Belle, eu gosto muito dessas cordas. Ele me fornece as cordas e uma vez me disse que tinha uma guitarra nos EUA que eu iria gostar, ele me trouxe uma por um preço bom, ela é uma maravilha. Os instrumentos vão aparecendo. Agora eu estou com vontade de ter uma Gibson modelo Jimmy Hall, ela vai surgir.

 

GtrExp.: Você espalhou a Bossa Nova pelo mundo todo.

R.M.: Sim, eu já fui 31 vezes para o Japão, já fizemos show na Austrália, algumas vezes na Russia, lugar onde hoje o publico acompanha cantando as músicas, tocamos também em Singapura. Nós temos sorte de poder tocar em lugares bacanas.

 

GtrExp.: Grandes standards da música brasileira são de sua autoria, O Barquinho, Bye Bye Brasil, Você, Rio, etc. de onde vem a sua inspiração para compor?

R.M.: Hoje, no carro, eu fico parado no transito e ao invés de ficar bravo com ele eu faço musica, eu vou gravando trechinhos no Iphone e depois ouço em casa, antigamente eu era muito ligado à natureza e me inspirava por ela e pelo que eu estava sentindo, outro jeito é a transpiração, as vezes você tem uma encomenda e tem que fazer.

 

GtrExp.: Você tem muita coisa não lançada?

R.M.: Pouca, eu tenho muitas músicas gravadas, outro dia fizemos um levantamento e o número é de mais de 500 músicas gravadas, algumas delas gravadas por várias pessoas, o Barquinho, por exemplo, tem mais de 1.300 gravações, toda semana eu recebo uma nova versão.

 

Menescal & LinsGtrExp.: Quem são os seus grandes parceiros na hora de compor?

R.M.: Primeiro o Ronaldo Boscôli, com ele eu fiz umas 300 músicas, depois o Lula Freire, fiz uma com o Chico Buarque, eu estou fazendo muitas com o Abel Silva que é um grande letrista, já fizemos mais de 20 músicas, entre tantos outros.

 

GtrExp.: Roberto, você se considera um workaholic?

R.M.: Eu sou. Eu não queria ser, eu acordo sempre as 4:30 da manhã pensando em trabalho e não consigo dormir mais. Mas vou resolver isso, vou me colocar alguns limites.

 

GtrExp.: Você tem algum hobby?

R.M.: Tenho, e é isso o que me equilibra. Eu gosto de mexer com plantas e as vezes tomar um vinho.

 

GtrExp.: Como você vê a música brasileira hoje?

R.M.: Eu acho que hoje tá faltando um movimento musical, hoje tudo é muito passageiro, pelo menos é a minha impressão.

 

GtrExp.: O que você diria pra quem hoje tem o sonho de viver de música?

R.M.: Eu diria, boa sorte! Risos. Além de ter talento é preciso ter sorte e trabalhar muito. Mas hoje concorrência é muito grande, é muito difícil.

 

GtrExp.: Roberto, muito obrigado, eu adorei conversar com você.

R.M.: Pô, fizemos um papo bacana, mais de 1 hora, é porque o assunto é bom!

 

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