As Várias Faces do Tempo (por Alexandre Bastos)
Com uma carreira longa e multifacetada (guitarrista, músico de estúdio, sideman, músico da noite, arranjador e produtor) o paulistano Mauricio Cailet, é dono de um estilo próprio e marcante.
Seu álbum solo “Time´s Up” recém-lançado por ocasião da 30ª Expomusic, Cailet fecha um ciclo importante em sua carreira. Ao mesmo tempo do lançamento do disco, o guitarrista fecha em definitivo seu trabalho com o trio e parte para novos horizontes musicais.
Dono de uma opinião forte e bem argumentada, especialista sério sobre equipamentos e timbres, conhecedor de Country Rock e dono de um dos melhores timbres de guitarra rock do país, Mauricio também se especializou na revisão de textos técnicos para editoras musicais e também na história da guitarra brasileira.
Alexandre Bastos conversou com o guitarrista sobre sua carreira, equipamentos, trajetória, dificuldades do mercado e da profissão e sobre seu disco.
Mauricio, fale um pouco de sua carreira, experiências, formação e influências.
Um amigo do meu pai chamado Brasil (era o nome dele mesmo!) me deu um violão “Ao Rei dos Violões” no meu aniversário. Comecei com as aulas de violão aos 6 anos de idade com minha madrinha e optei pela guitarra aos 11 anos. Ganhei a guitarra de presente do meu pai. Lembro que era uma “Retson Flying V” comprada no Mappin da Pça Ramos de Azevedo no Centro de São Paulo, uma guitarra sofrível…hahaha
Minha experiência como ouvinte de boa música teve início com Elvis Presley, Bill Haley and His Comets, óperas e música erudita (influência de meus pais). Com 13 anos tive minha primeira banda (de heavy metal, bem apropriado para minha idade… rsrs) e nessa época ouvia muito Randy Rhoads, Brian May e Jan Akkerman (Focus), com 14 anos recebi um prêmio de melhor instrumentista de um festival de colégio, aos 15 toquei com a banda Harppia por um curto período e dos 16 anos em diante comecei a tocar em bandas de covers de classic rock e autorais de heavy metal. Em 1985 tive uma avalanche de novas informações, pois conheci Steve Vai (com a banda Alcatrazz) e Yngwie Malmsteen com o disco Rising Force. Pra quem ouvia muito heavy metal, foi um upgrade e tanto! Steve Vai foi minha principal influência por muitos anos.
Estudei por alguns anos num conservatório próximo de casa e quando o Wander Taffo inaugurou o IG&T fui um dos primeiros alunos (1988). Nessa época conheci o trabalho de Joe Satriani e também Steve Morse e Dixie Dregs. Automaticamente minha atenção migrou para a obra destes guitarristas, que me influenciam até hoje! No meio da década de 90 fui um dos membros fundadores da banda Eterna, além de compor, gravar e produzir a primeira demo-tape do grupo: “Alguém Fundamental”.
Você fez parte de dois projetos únicos no Brasil. O quarteto de guitarras Quadrivium e Quattuor. Atualmente estes dois projetos renderam o Kroma e a Orquestra de Guitarras Souza Lima. O que estes trabalhos lhe trouxeram em termos de bagagem musical, experiências, realizações e principalmente em realizações profissionais?
A experiência de participar destes quartetos de guitarras foi muito gratificante! Tocar obras eruditas nos arranjos originais para quartetos de cordas com guitarras elétricas com distorção foi um grande desafio, tanto é que tivemos que desenvolver uma guitarra piccolo (fabricada pelo Tiguez) para alcançar a tessitura do violino e utilizar uma das guitarras afinada em B E A D F# B (do bordão para as primas) para alcançar a tessitura do cello. Era um trabalho intenso com ensaios diários, pois além da execução tínhamos que estudar todas as dinâmicas, digitação e interpretação das obras. Além deste trabalho praticamente me obrigar a voltar a estudar leitura de partituras, também nos fez ter disciplina e tocar para a música. Imagine 04 guitarristas tocando com distorção num mesmo ambiente! Ou a disciplina era respeitada ou a terceira guerra mundial poderia ser deflagrada! rsrs
Até hoje as pessoas lembram do trabalho destes quartetos e o fato de ter participado destes projetos me garante algumas oportunidades profissionais, mesmo depois de tantos anos.
Você pode ser considerado como um guitarrista de rock que foge dos padrões do estilo. Foi guitarrista da banda Harppia, trabalhou como músico de estúdio no Creative Sound Studio, trabalhou no circuito de música country de São Paulo, entre outros trabalhos. Em algum momento você chegou a se questionar que tantas vertentes musicais diferentes entre si afetariam sua personalidade musical a ponto de desfigurá-la por completo?
Não, muito pelo contrário! Essa “salada” de estilos, trabalhos e linguagens só vieram somar na minha carreira. Rock e suas vertentes estão intimamente ligados a country music, blues, música celta e erudita. Sempre passeio por diversos estilos, mas minha orientação musical primordial é rock, apesar de fazer o possível pra dominar a linguagem que determinado trabalho pede. No Creative Sound gravei muitos solos para duplas sertanejas!
Dentro do seu estilo, nota-se uma forte influencia de Dixie Dregs, Steve Morse, The Hellecasters e Brent Mason. Você pode falar um pouco mais disso e em que momento você intuiu que este seria seu diferencial?
Bom, todos estes nomes têm algo em comum em sua obra musical: a country music! Apesar de ser um cara urbano e sem ligações com o interior e sua cultura, sempre gostei de country music, da linguagem e técnicas empregadas pelos guitarristas do estilo. Steve Morse consegue um mix muito rico e interessante de música clássica, country, blues, rock progressivo e jazz-fusion, além de compor ótimas melodias e utilizar harmonias bem trabalhadas e fora do óbvio. Esta linha tênue entre o elaborado e o simples me cativou desde a primeira audição deste guitarrista. The Hellecaster tem timbres clean e low gain ótimos dos 03 guitarristas, fraseados lindos e técnicos, além de ótimos arranjos para harmonias pouco complexas, outra característica que me atrai num trabalho musical. Brent Mason é um guitarrista muito completo e com uma técnica impecável. Ouvi muitas gravações dele, pois na época em que toquei no circuito de country music em São Paulo (de 1997 até 2008) praticamente todos os discos de grandes nomes do estilo tiveram a participação de Brent nas gravações. De tanto ouvir estas referências acabei sendo influenciado nas minhas composições não pelas técnicas em si, mas pela estrutura composicional. Pra mim música instrumental não deve ser uma mera demonstração técnica, mas cada tema deve contar uma história, com começo, meio e fim. Componho na maioria das vezes utilizando estruturas onde um vocal se encaixaria perfeitamente, porém a voz dos meus temas é executada pela guitarra. Talvez esta característica torne minhas composições interessantes até para o público que não está acostumado com música instrumental exclusivamente.
Você lê e escreve partituras, correto? E é um guitarrista de rock. O que mais tem se difundido é que guitarrista, sendo ou não de rock, não deve; ter leitura musical e tão pouco ter uma educação musical formal e sólida (alguns atribuem o termo “autodidata”), independente se há ou não formação acadêmica. Dentro disso, fale sobre seus estudos musicais e sua opinião sobre esta corrente hoje tão difundida hoje com a Internet?
Escrevo e leio sim. Já fui mais atuante nas partituras e hoje admito que estou um pouco relapso…rsrs
Na época do quarteto e das gravações para terceiros em estúdio era muito simples: ou eu lia partitura ou não conseguiria executar estes trabalhos! Quando comecei a compor meus temas tive que escrever tudo, pois todas as linhas de contrabaixo fazem contraponto com a guitarra e sem a referência escrita seria praticamente impossível passar os arranjos de forma correta e consistente para o baixista. Existem caras geniais que não lêem ou escrevem partituras e o resultado final não fica comprometido por esta questão, como Pepeu Gomes e Armandinho Macêdo, por exemplo. Para os “meros mortais” que querem trabalhar como sideman, músicos de estúdio ou desejam compor músicas mais elaboradas, a leitura e escrita são ferramentas fundamentais. A Internet dá a falsa impressão que todo mundo pode ser o que desejar em apenas 15 minutos, que todo mundo pode ser especialista sem muito estudo e transpiração. A vida real não é bem assim.
Como produtor você também esteve do outro lado do mercado musical. Recentemente você produziu duas edições de um evento que teve a iniciativa de mostrar a história da guitarra no Brasil correto? Na segunda edição você teve o cuidado de trazer mais um pouco da história do instrumento no país, cuidando também da área didática. Quais as experiências adquiridas neste projeto, dificuldades, satisfações, parcerias, captação de recursos e etc.?
Em 2009 tive a honra de ser convidado para o cargo de produtor executivo da “Mostra Guitarras do Brasil” pelo Luis Feijão (coordenador de produção da Rhadar Cultural, produtora responsável por esta mostra cultural dentre outras, a grande maioria ligada à música). A “Mostra Guitarras do Brasil” um projeto incentivado via Proac/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e nossa intenção era de fazer um show com banda de cada um dos grandes nomes da história da guitarra brasileira, além de rodar um livreto contando a história do instrumento no país e a contribuição destes nomes para o universo musical do Brasil. Uma vez elaborado o projeto e com os nomes da primeira edição já escolhidos, o próximo passo era a aprovação na Secretaria de Cultura, a liberação da captação de verba e o aporte do patrocínio. Curiosamente o patrocinador que teve interesse no projeto e que cumpriu todas as exigências legais não tem nada a ver com música, guitarras, etc…Foi uma cervejaria! Durante a execução do projeto as maiores dificuldades foram de apoio de empresas do setor musical. Tirando a EM&T (onde foram realizados a maioria dos shows da 1ª edição do evento), simplesmente nenhuma empresa teve o menor interesse em agregar sua marca a um evento deste porte. Nesta edição realizada em 2010 tivemos Heraldo do Monte, Armandinho Macedo, Pepeu Gomes, quarteto Kroma e Marcinho Eiras. A segunda edição ocorreu em 2012, pois todo o processo de prestação de contas, liberação de proponência, aprovação e captação de recursos é burocrático e demorado e desta vez tivemos a participação de 10 nomes no mesmo sistema: 1 show de cada artista e impressão e distribuição gratuita de 05 mil livretos em escolas e faculdades de música no estado de São Paulo. Participaram em 2012 Olmir Stocker, Victor Biglione, Edu Ardanuy, Mozart Mello, Faiska, Alexandre Hard, Luiz Carlini, Ricardo Vignini, Celso Salim e Edu Letti. Apesar da maior divulgação e alcance de público da segunda edição, apenas uma publicação impressa especializada em guitarras se demonstrou interessada numa parceria. As empresas do setor preferem investir em “concursos culturais” na Internet com prêmios irrisórios aos participantes do que envolver suas marcas num projeto com músicos gabaritados e de alto-nível, muitos deles com carreiras internacionais. Permutas foram sugeridas por algumas empresas, mas quando era passado o custo para agregar a marca ao projeto (bem baixo por sinal, para um projeto deste porte), 100% declinava. Cheguei a ouvir: “… no mercado da guitarra é assim mesmo, tudo permuta… dinheiro só pra anúncios e olhe lá!”. Triste essa mentalidade de algumas empresas.
A terceira edição da Mostra Guitarras do Brasil estava prevista para este ano ainda, mas como mudamos de patrocinador (novamente uma industria de bebidas) e o aporte de verba não foi feito no prazo, realizaremos a III Mostra Guitarras do Brasil apenas no segundo semestre de 2014. Para esta edição já tenho os nomes e locais confirmados, apenas aguardando o patrocínio, pois todos os artistas participantes em todas as edições receberam cachês acima da média de mercado. Se o meio tentar sobreviver apenas de permutas, os músicos vão viver do que, de luz? rsrs
Complementando isso, todos nós temos momentos de altos e baixos dentro do mercado e da profissão, seja como professor, produtor, performer e etc. Como você consegue lidar com tal instabilidade e qual a sua visão dentro deste cenário? Você enxerga uma possibilidade de reversão neste processo?
Qualquer profissão relacionada à música ou artes em geral sofre de uma certa inconstância. Não é raro você trabalhar intensamente por 1 ano e passar por dificuldades nos 6 meses seguintes. Arte é um produto comercial e o interesse das pessoas pode mudar drasticamente de um período a outro, ainda mais com a grande velocidade das informações nos dias de hoje. Se o artista não se atualizar com a mesma velocidade (o que nem sempre é possível, já que trabalhos com qualidade tem seu tempo de preparação e maturação), estará propenso a estes períodos de “vacas magras”. Uma das formas de se proteger das fases ruins do mercado e da profissão é ter um plano B ou C. Você pode ser prioritariamente um músico da noite, mas também pode dar aulas e produzir jingles e trilhas sonoras, por exemplo. No meu caso sou um músico por definição e prioridade na carreira, mas em determinados momentos “estou” produtor executivo, entende?
Com a deficiência cultural que nosso público consumidor tem, acho que a tendência é piorar…A música popular (que tem grandes índices de vendagem e agenda repleta de shows) tem cada vez menos guitarras nos arranjos. Aliás, tenho visto que nosso instrumento tem se tornado cada vez mais objeto de fetiche para aficionados do que efetivamente uma ferramenta de trabalho profissional no mercado musical brasileiro.
Você trabalhou e trabalha de forma intensa em eventos como Expomusic, sempre procurando demonstrar produtos de excelente qualidade e com este canal, também divulgando seu trabalho instrumental. Hoje vemos uma nova geração de instrumentistas divulgando seu trabalho por meio da internet e buscando contratos de endorsement e buscando estar em eventos deste tipo. Qual sua percepção de tais meios de divulgação hoje e ainda, como você este nicho de mercado?
As coisas se distorceram um pouco de alguns anos pra cá. Quando um fabricante produz um bom produto, o interessante é que bons músicos endossem a qualidade deste produto e demonstrem as possibilidades de utilização para o público consumidor. Hoje em dia as empresas invertem este processo e endossam músicos ou artistas não necessariamente pela qualidade musical ou artística de seus trabalhos, mas pelo alcance de público, independente da qualidade deste consumidor final. Atacam na quantidade, sem um nicho de mercado específico. O consumidor mediano procura preço em detrimento da qualidade e não me espanta a quantidade de produtos de baixa qualidade que invadiu o mercado musical. A Internet é uma ótima ferramenta de divulgação, tem levado ao conhecimento do grande público bons músicos e produtos que talvez nem fossem reconhecidos por suas qualidades em outras épocas, porém como toda informação em massa, necessita de filtros. Quem tem o mínimo de conhecimento consegue filtrar o que é bom ou ruim, por outro lado quem está iniciando na carreira musical agora acaba absorvendo todas as informações disponíveis como se fossem verdades absolutas…rsrs
Eu particularmente só associo meu nome e carreira a fabricantes que produzem bons equipamentos e que tenham um direcionamento de mercado parecido ao que julgo ideal. Ser reconhecido a qualquer preço não faz minha cabeça.
Mauricio, você também vem se especializando em revisões e consultoria técnica para publicações musicais. Dentro de sua experiência, o que você acha ser ideal para um guitarrista que pretende entrar neste segmento?
Escrever bem (meu pai era jornalista), pesquisar incansavelmente sobre o assunto em questão e ter bom conhecimento sobre o universo musical em geral, além da especialização no instrumento em questão…No caso, fiz a revisão técnica das biografias da banda Queen (capítulo sobre Brian May) e do Jimmy Page para as edições brasileiras destas publicações.
No seu disco nota-se uma preocupação esmerada com a composição, estética musical, arranjos, execução e fraseado. Você explicar um pouco como funciona seu processo de composição e fraseado?
Geralmente parto de algum evento cotidiano ou importante que tenha vivenciado e procuro compor um riff, melodia, frase ou apenas a divisão rítmica que me lembre o evento e a partir daí desenvolvo o tema e os arranjos. Gosto de trabalhar com compassos compostos e acentuações, pois quero que minha música tenha movimento. Raramente monto uma harmonia com acordes cheios na guitarra e depois escrevo as outras vozes dos outros instrumentos. Os acordes se formam com a condução de vozes da guitarra principal, contrabaixo e outros elementos que possa utilizar, como sintetizadores ou piano. Gosto do que é belo e soa bem! Meus temas e melodias são simples, pois se o ouvinte não conseguir lembrar e cantar o tema, de nada valeu meu esforço…No meu fraseado procuro partir de uma melodia interna, sem maiores preocupações teóricas, no feeling mesmo. A partir deste esqueleto vou elaborando este fraseado com as técnicas que façam parte das sensações que pretendo passar ao ouvinte e não raramente vou desenvolvendo a harmonia em cima da melodia e do fraseado já elaborado. Sou muito emocional compondo e tocando. Sinceramente, jogar um fraseado rápido apenas pra mostrar destreza não é minha onda, ou as pessoas vivem falando e andando rápido dando piruetas 100% do tempo de suas vidas? rsrs
Nesta sua maneira pessoal de atingir os resultados sonoros que quer como você desenvolve e pensa em seus improvisos? Você segue uma harmonia especifica, segue um “cardápio” de escalas e arpejos que mais gosta e etc.?
Sou um guitarrista extremamente “pentatônico” e obviamente meus improvisos vão seguir esta lógica em princípio. Obviamente tenho alguns licks na manga que procuro utilizar dentro da linguagem e estilo da base proposta para determinado improviso. Double stops, bends de 01 tom e meio, pedal point, cromatismos e arpejos ascendentes são outras ferramentas que utilizo com freqüência nas jam sessions da vida. Sempre “canto” mentalmente a melodia básica de um improviso antes de tocá-la na guitarra e procuro enriquecê-la com as ferramentas descritas acima, durante o improviso.
Muita gente, principalmente alunos estão sempre nos perguntando como, quando e o que estudar. Todos nós desenvolvemos uma rotina de estudos, que de certa forma é eficaz para nós durante um tempo. O que você recomendaria para quem deseja estudar de maneira séria o instrumento? E qual é hoje sua rotina de estudos?
O ideal seria estudar tudo relacionado ao seu instrumento, desde harmonia e técnica até regulagem básica de guitarras e como conseguir o melhor timbre! Na realidade o que vemos é uma paranóia em tocar tudo “o mais rápido possível”, esquecendo que a guitarra é um instrumento musical e deve obviamente produzir música. Sem técnica apurada o músico fica limitado para executar até o que escreve, portanto é um estudo necessário sempre que possível, porém harmonia, escalas e sua utilização prática são inegociáveis: ou você estuda ou pode vender sua coleção de equipamento musical…rsrs
Algo que vejo muito raramente nos dias atuais são os ensaios e prática de conjunto. O músico está se isolando no seu quarto e não troca mais informações musicais com bateristas, baixistas, cantores ou outros instrumentistas. Só a prática leva a algo próximo da perfeição e se a intenção é fazer música, levante da cadeira é vá tocar com os amigos em festivais, casas noturnas ou num estúdio de ensaios!
Devido ao meu trabalho na área de produção executiva de eventos culturais, fico boa parte do dia em frente ao computador acertando detalhes de planilhas, contatos com artistas, etc…Minhas guitarras sempre estão no suporte ao meu lado e pelo menos de 3 a 4 horas por dia elas estão no meu colo. Nestes momentos estudo alguns trechos das minhas músicas onde a execução ainda não esteja clara ou onde eu sinta alguma dificuldade, estudo algumas inversões de acordes e também mão direita. Quando resolvo desligar minha estação de trabalho me dedico 100% a guitarra compondo, estudando possibilidades harmônicas ou tirando músicas de outros compositores – para estudo – ou repertório para trabalhos como sideman.
O que você tem ouvido hoje que tem te inspirado a compor e a estudar?
Continuo ouvindo todos os trabalhos onde Steve Morse está envolvido (Dixie Dregs, SMB, Flying Colors, Deep Purple), voltei a ouvir Greg Howe graças à banda Maragold, Guthrie Govan tem coisas muito interessantes em termos de técnica e linguagem, Andy Timmons, Steffen Schackinger, Eric Johnson (estes com ótimos timbres e fraseado incrível) e no meu carro ouço muito Joe Bonamassa, Lynyrd Skynyrd, Freak Kitchen, Larry Carlton e Snarky Puppy.
Em seu trabalho também nota-se além do descrito anteriormente, muito esmero na produção e nos timbres. Você poderia nos descrever o seu equipamento atual e quais as marcas que você representa como endorseer e o porquê e como chegou à definição deste equipamento?
Bom, parto do princípio que se o timbre ideal já não estiver pronto na cabeça do músico, não há equipamento que resolva esta questão. Um bom equipamento é necessário sim, considerando que a qualidade vai facilitar a reprodução do timbre ideal, mas primeiro a concepção de timbre deve vir da cabeça do instrumentista para ser reproduzido fielmente pelo equipamento de qualidade. Por outro lado o menos pode significar mais! No meu disco todas as guitarras foram gravadas com um amplificador Blackstar HT-5R de 5 watts, sem utilização de pedais de drive ou booster e sem microfonação. O sinal foi captado pela saída emulada de falantes deste aparelho, na configuração 4x 12”. Delays e modulações foram adicionados na mixagem. Pra exemplificar que o menos foi “bem pouco” neste disco, a interface de áudio utilizada foi uma Behringer Guitar Link. Quem ouve o resultado não acredita na possibilidade deste equipamento…rsrs. A escolha pelo Blackstar foi intencional pois moro em apartamento e pra fazer minhas sessões de “silent recording” durante a madrugada foi o aparelho que mais se demonstrou versátil, com harmônicos, dinâmica e compressão na medida para reproduzir meu timbre ideal. Em se tratando de guitarras, utilizei duas Ernie Ball Music Man Steve Morse model (Standard e Y2D) no disco, além da minha Music Maker signature M2C, desenvolvida em parceria com o luthier Ivan Freitas. A M2C é uma guitarra claramente inspirada nas Steve Morse (inclusive utiliza os mesmos captadores DiMarzio Morse model) porém com madeiras diferentes das Music Man Morse. Minha M2C tem corpo em basswood, top em quilted maple e braço e escala em birdseye maple, além do tremolo Gotoh 510, configurações impossíveis de se ter numa EBMM Steve Morse. O braço tem as mesmas medidas e pegada da Steve Morse, porém com 25” de comprimento e trastes médio-jumbo em aço inox, o que a torna mais confortável que o modelo que a originou. Este modelo tem apenas 02 humbuckers ligados numa megaswitch, o que me permite ter diversas opções de timbre que lembram de Les Paul a Telecaster, passando pelos timbres de Strato sem ter que colocar mais 1 ou 2 captadores adicionais (como nas Morse). Um segundo modelo da M2C está disponível nas mesmas medidas, porém com corpo em mogno, top em quilted maple, escala em rosewood e um par de mini humbuckers Gibson para timbres mais clássicos. Raramente utilizo pedais de drive ou booster em estúdio, mas ao vivo meu boost de ganho vem de um pedal Aquadrive da T.Miranda. Apenas ao vivo as modulações vêm de um BBE Mind Bender (chorus e vibrato) e um Mooer Ensemble King (simulando rotary speaker). O delay vem de um TC Electronic Flashback Delay ligado no loop do amp e meu drive principal é sempre do amplificador, seja o Blackstar HT-40, HT-5R ou o T.Miranda Overdrive 50s (baseado no Dumble Overdrive Special). Também uso um Little Wah da EFR, pois além de ser pequeno utiliza chave ótica e tem “voicing” interessante e na medida. Como booster de volume para solos utilizo um equalizador Graphic G da Mooer com ênfase nas freqüências médias. Meu afinador é um TC Electronic Polytune Mini.
Utilizo cabos Tecniforte há mais de 3 anos e nunca tive um problema sequer de ruído ou perda de sinal.
Todos meu parceiros são empresas nacionais que fabricam produtos com qualidade mundial: Music Maker Custom Guitars, Tecniforte Cables, T.Miranda pedais e amplificadores, Jam Cases e Palhetas Online (palhetas personalizadas).
Hoje você tem alcançado os resultados, tanto financeiro e tanto de realização pessoal, divulgando seu trabalho? Quais as suas dicas para quem também tem este objetivo e não consegue enxergar muita perspectiva?
Resultados financeiros são bem menores que a realização pessoal, principalmente com música instrumental, mas meu trabalho como instrumentista abriu diversas portas profissionais! Gravar para outros artistas, acompanhar cantores, ministrar workshops, produzir a Mostra Guitarras do Brasil, prestar consultoria para desenvolvimento de produtos, ter meu modelo de guitarra “signature”, tocar em diversas bandas na noite…Estas atividades geram retorno financeiro e só são possíveis graças a minha carreira na música instrumental. Os resultados financeiros são indiretos, porém a realização pessoal é diretamente ligada à música instrumental que faço.
O mais importante é você ser autêntico no que faz, estudar sempre, procurar melhorar como músico e ser humano e ter responsabilidade e profissionalismo!
Tenho que comentar sobre um assunto bastante intrigante. Crenças, convicções e fé. Eu acredito de maneira convicta e irrefutável que todo o músico tem, de certa forma, uma sensibilidade mais desenvolvida que a maioria das pessoas que não trabalham com arte, seja ela qual for. Você crê nisso? Como sua fé influi no seu trabalho, na sua maneira de encarar e viver a vida e a música de uma forma geral?
Tenho minhas convicções sobre a vida, porém não tenho crenças nem religião. Realmente o artista tem uma sensibilidade mais aguçada e uma forma diferente de encarar a vida e seus desafios, até porque fez uma escolha que garante uma vida dinâmica, sem espaço para o comodismo.
A única coisa relacionada à fé e a música que me incomoda profundamente é a segregação que certos grupos ligados à religiosidade insistem em manter, discriminando ótimos trabalhos musicais que não seguem seus preceitos…Bom, o ser humano é esquisito mesmo…rsrs
Para pontuar esta entrevista, diga-nos suas impressões sobre o cenário musical brasileiro e quais as dicas para quem deseja alcançar os seus objetivos.
Bom, todo mundo percebeu que nosso cenário cultural em geral teve uma queda tremenda em qualidade e conteúdo. Ao menos o tipo de arte – se é que podemos classificar desta forma – que a grande massa consome tem zero conteúdo e zero informação musical ou artística relevante. Por outro lado têm-se produzido muita coisa boa fora do mainstream, muita gente lançando trabalhos com bom conteúdo em mídias digitais e físicas. Atualmente temos mais grupos musicais do que espaços para apresentações destes novos trabalhos. As casas noturnas tradicionais muito raramente abrem espaço para música autoral, independente de estilo. Preferem não investir no novo, não arriscam.
Como temos um mercado com oferta maior que procura, o circuito fica desequilibrado. Neste quadro penso que participar dos projetos e mostras culturais incentivados pelos governos municipal, estadual e federal é a forma mais inteligente de conseguir divulgar seu trabalho e tocar com boa infra-estrutura e cachês dignos. Apesar de algumas pessoas acharem um absurdo a fomentação cultural ficar na mão dos órgãos governamentais, nossa realidade é esta e simplesmente que tentar consolidar um trabalho no formato antigo pode ter uma desagradável surpresa, a não ser que apele para os estilos musicais com grande índice de consumo, porém fatalmente não estará tocando o que gosta e acredite, a queda de qualidade será imprescindível. É legítimo participar deste tipo de trabalho para garantir seu sustento, mas creio que não seja o “trabalho musical da sua vida”, né? rsrs
Faça a música na qual acredita, não tente obter fama a qualquer preço e tenha a mente aberta para prestar serviços em grupos musicais que fujam da sua orientação musical, pois o músico é um prestador de serviço e se quiser bancar seu sonho terá que tocar sertanejo, pop, axé ou covers. Não é vergonha nenhuma tocar outras coisas para obter seu sustento e bancar financeiramente a produção de sua música ou trabalhar em outros cargos dentro do universo musical. Conheço roadies e técnicos que ganham seu dinheiro desta forma, também são bons músicos e tem ótimos trabalhos autorais, assim como professores de música, produtores e até fabricantes de equipamento! O importante é ser sincero consigo mesmo e ter a consciência que dinheiro é conseqüência de muito trabalho e você vai precisar dessa verba para bancar as etapas de ensaio, produção, gravação, prensagem e distribuição da sua obra autoral. A não ser que você tenha herdado uma pequena fortuna, terá que fazer algumas coisas no meio musical que não está muito disposto…
Grande abraço e obrigado pela oportunidade!
Pra quem quiser conhecer um pouco mais sobre mim e meu trabalho, seguem alguns links interessantes:
website http://mauriciocailet.wix.com/guitar
Assessoria de imprensa http://www.asepress.com.br/music/index.php/clientes/mauricio-cailet
Mostra Guitarras do Brasil http://www.guitarrasdobrasil.com.br/2012/
youtube http://www.youtube.com/TheMCailet
Facebook https://www.facebook.com/mauricio.cailet
Soundcloud https://soundcloud.com/mcailet
O álbum “Time’s Up” encontra-se à venda nos seguintes pontos: Pop’s Discos, Free Note, Die Hard, Animal Records, EM&T e Musicparts.
Download digital em https://onerpm.com/album/112805512