Rick Ferreira e Banda – Tributo a Raul Seixas (Por Alexandre Black)


Rick Ferreira e Banda – Tributo a Raul Seixas

Blue Note (Rio de Janeiro) 16/02/2019

 

rick_ferreira_e_banda_tributo_a_raul_seixas_67331Sábado à noite, quinze dias antes do carnaval no Rio de Janeiro, o show acontecendo em um complexo de entretenimento onde simultaneamente acontecia um bloco pré-carnavalesco, e na casa, uma franquia de um dos maiores clubes de jazz de Nova Iorque, tínhamos a nata da outrora Sociedade Alternativa trajando calça social com sapatenis e bebendo whisky e vodca importados! A todo momento eu imaginava que o Amigo Pedro sentaria ao meu lado com o seu velho terno e um copo de suco! Meu detector de roubadas começou acender uma luz amarela e fiquei preocupado, mas vamos lá, estava ali “a trabalho”, então o jeito era ver qual seria a desse tributo a Raul Seixas….

O show começa com uma introdução que é uma gravação da voz do próprio Raul, que faz a atmosfera do lugar mudar de forma mágica e após um par de minutos, entra a banda arrebentando em Quando Acabar, para deixar todo mundo louco!

Note que falei que entrou A Banda, pois quando fui ao show a ideia era falar principalmente da performance e talento do grande Rick Ferreira, guitarrista que acompanhou Raul em quase toda sua carreira e vida, e hoje está começando esse projeto de tributo em celebração dos 30 anos da partida do Maluco Beleza (e quem for nos shows vai descobrir que o verdadeiro maluco beleza nem era o Raulzito, mas isso é uma outra estória…), mas chegando lá, me deparei com uma banda tão boa, que seria injusto não mencioná-los com destaque.

IMG_7555Marcio Saraiva – Bateria e Voz; Marcio Chicralla – Baixo; Miguel Archanjo -Teclados; Fabrizio Iorio -Teclados; Pedro Terra – Guitarra e Vocal; Emerson Ribber – Violão e Voz, formam uma banda com uma qualidade como poucas vezes o próprio Raul deve ter visto interpretando suas músicas, com destaque especial para os vocais de Emerson e os solos de guitarra de Pedro, que fazem uma linha de frente perfeita com Rick. Não é à toa que o guitarrista fala no show que “não vive sem ninguém ali….”, ele tem razão, o cara que já tocou com quase todo mundo da música brasileira, encontrou uma química perfeita naquela turma!

Bem de volta ao show, como não poderia deixar de ser, é uma grande festa, com uma completíssima coletânea do Best Of Raul por duas horas de duração, deixando o público louco, cantando cada música. E para quem acha que Raul é coisa do passado, está lá, em letras como Aluga-se, Pastor João e A igreja Invisível, e até mesmo Rock das Aranhas uma mostra clara de que a obra do cara é atual nas nossas vidas, tratando de temas que na verdade parecem mais apropriados hoje do que há 30 ou 40 anos.

Rick Ferreira ainda está em grande forma dividindo os solos de guitarra com Pedro e os vocais com o performático Emerson, e vez ou outra senta no seu Pedal steel Guitarpara arrebentar em outra de suas especialidades, tirando sons dignos do Delta do Mississipi, ou qualquer outra respeitável praça “bluseira”. Adepto de modelos Fender, e com uma pegada limpa e precisa, o carioca de 65 anos apresenta uma vitalidade invejável, uma verve rock’n’roll que deixa muito garoto no chinelo quando o assunto é atitude e presença de palco.

Na metade do show Rick chama ao palco a participação especial de Danni Carlos que cantou Trem das 7e Canceriano sem Lar, e nessa última ainda deu um show de harmônica surpreendendo a galera e arrancando aplausos pela empolgação e talento (no instrumento) que acho que muitos desconheciam, era realmente a velha e boa Danni dos tempos de Rock’n’Road de volta, revigorada, cantando aquelas músicas que haviam sido sucesso em um tempo que ela era uma criança, demonstrando, por mais um ângulo, a atemporalidade da obra de Raul Seixas.

IMG_2346Outro ponto impagável desse show, daquelas coisas que não se encontra em qualquer tributo, exceto quando se tem no palco um parceiro de décadas do homenageado, são os deliciosos “causos”, como a origem da Canceriano sem Lar, ou a passagem do casamento do Jerry Adriani com o Raul chegando de padre e o verdadeiro Padre sendo barrado na recepção! momentos de gargalhadas entre uma música e outra que Rick sabe dosar bem para não perder o timmingdo show e ainda dar todo um tempero especial para aquele fã em busca de um algo a mais especial.

Fazendo um contraponto pouco relevante, esse que lhes escreve, achou apenas um pouco exagerado, certa postura do Artista de em vários momentos, ficar agradecendo a presença de amigos e principalmente “cartolas” da indústria fonográfica, isso deu um certo ar comercial ao show e quebrava um pouco a cadencia, mas dava para entender, pois ele parecia muito feliz com a presença de tanta gente conhecida que havia ido prestigiá-lo….

O fim do show é praticamente apoteótico, encerrando com o hino Sociedade Alternativa que levou o público ao delírio, e logo seguido de um bis de dois dos maiores clássicos, Maluco Beleza e aquela que talvez seja a maior música de Raul, Gita.

Rick Ferreira realmente montou um belíssimo espetáculo para homenagear seu velho amigo e parceiro de palco, e mostra nesse show que ainda tem muita “garrafa para vender”, dominando suas teles e stratos com muita intimidade. E o mais legal é pensar que esse cara que já fez tanto pela música brasileira, ainda faz, quando resolver parar, já tem para quem passar o bastão, afinal, não falei antes, mas o guitarrista da banda, Pedro Terra, é seu filho, e sem dúvida tem o DNA do pai, prefere uma Les Paul para seus solos mais agressivos, mas é igualmente técnico e feroz nos ataques. Família que sola unida, nunca está sola!