Duda Belintali | Maturidade em Júbilo
O guitarrista Duca Belintani comemora vinte e cinco anos de carreira lançando o cd “Na Trilha do Blues”, voltado para o Blues instrumental. O disco apresenta a maturidade do músico e sua imensa paixão pelo gênero. De 1986 até agora, o guitarrista transitou pelo Pop, Rock, MPB e Fusion, demonstrando uma versatilidade que poucos músicos têm. Agora apresenta o seu CD de Blues, estilo que sempre levou na bagagem em todos os trabalhos que realizou e que celebra seus 25 anos de carreira. Alexandre Bastos conversou com Duca Belintani sobre sua carreira, influências, método de composição, música, formas de estudo, dicas e uma visão geral sobre sua discografia.
Duca, fale um pouco de sua carreira, experiência musical, formação e influências.
Já são mais de 25 anos de guitarra na mão. Comecei aos 6 anos de idade no piano com a minha mãe – Adalgisa Arruda Belintani – que é professora e regente. Aos 12 passei para o violão e aos 17 para guitarra.
Nesse período já fiz um pouco de tudo. Já toquei Rock, Pop, Sertanejo, MPB, Bossa Nova, Blues, já fui roadie e técnico de som.
Na verdade o que tentei fazer desde moleque, foi conhecer um pouco de cada coisa dentro da “teia” que envolve o mercado da música.
Eu já tinha decidido que era aí que queria trabalhar, mas não sabia se seria com um trabalho meu ou acompanhando um cantor, ou em uma banda, ou se não seria nada disso e sim técnico de som, professor etc. Tentei conhecer cada ponto como se fosse um estágio. O que serviu também para eu conhecer um pouco de tudo e que me leva hoje a ter a gama de trabalhos que tenho não somente tocando.
Minha formação foi junto a minha mãe na parte teórica e técnica. Quando decidi estudar guitarra e vi que necessitava de outras informações como técnica e improvisação, resolvi recorrer a um amigo que me ensinou as “manhas” da guitarra e fui aprimorar a improvisação com o mestre Heraldo do Monte.
Mas era difícil, pois não existiam muitos professores e o material didático era mínimo.
Pra você ter uma ideia, eu ouvia os disco do Hendrix e não sabia que existia um pedal wha wha e achava que ele tirava aquele som “na mão” e tentava fazer igual (risos). Foi bom, pois desenvolvi maneiras de fazer determinadas coisas de outra forma, o que contribuiu muito para meu desenvolvimento pessoal técnico.
Minha maior influência foi realmente minha mãe, pois ela toca de tudo e desde criança a música fez parte da minha vida.
Em se tratando de artistas, tive um período Bossa nova onde aprendia e tocava muito.
Na guitarra, foram meus primeiros discos os Rolling Stones, Jimi Hendrix e Eric Clapton, os quais me levaram à guitarra.
Duca, você vem trabalhando desde a década de 1980, que marca o inicio musical de muita gente, porém você é um dos poucos instrumentistas que não se deixou influenciar pela onda “shredder”, típica da década citada. Quais são as razões que o tem mantido seguindo esta trilha de maneira tão contundente e o mantém afastado desta forma de tocar rápido a todo custo e que insiste em querer retornar, mantendo acesa a paixão pelo blues e também mantendo toda a versatilidade que é notória em sua carreira?
Pois é, acho que não fui influenciado pela onda da velocidade, pois quando apareceu eu estava olhando outras coisas e minha praia era B.B.King, Clapton e Hendrix.
Além do mais não gostava mesmo da questão da velocidade, pois sempre curti “cantar” meus solos e tocando muito rápido, era como se tentasse falar tudo rápido demais sem me importar com a pontuação, intenção, respiração etc.
Não tenho nada contra quem toca rápido, mas não é a minha onda mesmo. Eu sempre toquei de um jeito Blues, seja em que trampo for, me adapto. Mas se ouvir direito vai ter o Duca Blues lá. Esse sou eu, não tento ser como ninguém, absorvo as informações e as coloco no meu som.
Como foi produzir o Kid Vinil e em que isso agregou em sua carreira como instrumentista, produtor, compositor e agora líder de banda?
Foi um período muito rico, pois quando fui convidado a entrar na banda, ela estava parada há um tempo e estava praticamente começando de novo.
O Kid já havia feito seus trabalhos solos e o Magazine com outro vocalista e quando cheguei, a ideia era juntar tudo novamente, mas eles estavam sozinhos, sem empresário, sem produtor e foi aí que eu usei minha experiência de já ter produzido minhas bandas anteriores e minha formação como Economista (pois sou formado em Economia) para botar “ordem na casa” (risos).
Foi o cd mais pesado deles (XU-PA-KI), fizemos no Estúdio do Rick Bonadio (pré Mamonas), o que me ajudou na sonorização. Na verdade era uma proposta diferente. Para eles era uma volta e para mim era trabalhar com um som diferente, pois estavam partindo para mais peso e seco e com uns caras que já estavam inseridos no mercado.
O melhor foi que aprendi muito com as coisas que acertamos e com o que erramos, fiz
3 grandes amigos que são o Kid, Trinkão e Lu Stopa, além de muita história pra contar.
Você idealizou um método didá- tico voltado para o blues. O quanto você considera gratificante ter produzido este trabalho didático e se de alguma forma você hoje o reavaliaria e porventura reeditaria este método, já que existem pouquíssimos métodos voltados para esse estilo?
Acho que eu fui o primeiro a fazer um método específico de um estilo aqui, para um instrumento e vender isso na banca de jornal com cd a preço acessível. Enquanto os livros custavam R$ 80,00, o meu método na época era vendido a R$ 10,00 cada fascículo (foram 4 ao todo) e com cd. O legal foi que atingiu o Brasil todo e o melhor: chegou a pessoas que nunca teriam comprado um livro para estudar musica por não ter grana. Foi um enorme prazer e criei uma marca. Claro que por ter sido uma publicação com uma empresa que não tinha know-how nesse tipo de produto, tivemos muitos problemas, mas o que ele proporcionou ao mercado foi muito maior. Acho que abri um mercado. Hoje em dia é claro que atualizaria e reveria muita coisa, até porque o mercado mudou e existem outros produtos. A idéia é publicar novamente, mas preciso novamente de um parceiro.
Conte-nos como foi a experiência de ser educador musical filiado ao SESC e à Secretaria de Cultura de São Paulo. O que de gratificante houve nesta experiência e o que mais sentiu falta na estrutura destes sistemas.
Na verdade, esses são trabalhos pontuais que faço até hoje. Não são todos que podem pagar um curso de música e eu acho que isso é uma coisa muito importante principalmente na formação das crianças e jovens. Às vezes essas instituições resolvem investir nisso, eu sempre estou à disposição para fazer este trabalho pois acho necessário. Muitas vezes são feitos sem nenhuma estrutura, mas nem sempre são assim.
O que vejo de mais importante é dar a possibilidade da música a uma pessoa, pois já está comprovado que isso ajuda no raciocínio e na parte social, além de criar um ouvinte mais criterioso.
Nesta sua maneira pessoal de atingir os resultados sonoros que quer, como você desenvolve e pensa em seus improvisos? Você segue uma harmonia especifica, segue um “cardápio” de escalas e arpejos que mais gosta?
Na minha opinião, a gente estuda mú- sica para conhecer as regras, os caminhos e etc, mas na hora de tocar e criar não são só estas coisas que estão em jogo. Quem manda é a música. Claro que se você quer passar uma tensão e não está achando um determinado arpejo, pode recorrer à teoria a encontrá-lo.
Da mesma maneira você não vai deixar de tocar uma determinada nota no seu solo só porque não faz parte “daquela” escala X ou não está dentro dos padrões daquele estilo musical. As escalas, arpejos, ritmos e harmonias são as ferramentas. O que você vai fazer com ela é que vai ser o diferencial. De maneira geral, deixo a música fluir e tento “cantar” algo na guitarra, mas claro que já tenho uma ideia de onde estou pisando e muitas vezes sigo a sensação rítmica para improvisar.
Duca, conte-nos um pouco mais so- bre como está sendo produzir a divulgação de seu novo disco “Na Trilha do Blues” e se há es- paço para a divulgação de música instrumental no país.
Essa é a parte mais complicada para o músico, pois o melhor seria podermos nos concentrar em fazer música, mas temos que divulgar nosso trabalho, fechar shows etc. Não é um trabalho fácil.
Eu, assim como a maioria do pessoal independente e principalmente do instrumental, faço tudo sozinho, o que não acho ruim, pois passo a conhecer algo mais, mas o pior é que o tempo passa a ser nosso inimigo.
A parte financeira para isso também é um fator agravante, pois se não se consegue divulgar bem um trabalho você não toca, e se não toca não tem grana, se não tem grana, não tem investimento no trabalho e é um círculo vicioso. Quem faz música instrumental aqui no Brasil já está sabendo que é assim e se a faz é porque o amor por isso é muito maior e vai te dar força para abrir os espaços necessários, muitas vezes temos que fazer outros trabalhos para man- ter o instrumental funcionando.
Muita gente, principalmente alunos, estão sempre nos perguntando como, quando e o que estudar. Todos nós desenvolvemos uma rotina de estudos que de certa forma é eficaz para nós durante um tempo. O que você recomendaria para quem deseja estudar de maneira séria o instrumento? E qual é hoje sua rotina de estudos?
DB: Bem, inicialmente (de preferência com a ajuda do seu professor) acho natural que se tenha em mente que para fazer um bom trabalho é necessário estar em forma com sua técnica e seu conhecimento teórico. Hoje em dia, existe um material didático muito vasto que pode auxiliar o estudante dependendo do nível que estiver. O importante é criar a rotina para não ficar perdido durante o estudo. Uma coisa que costumo fazer é estudar linguagens de outros instrumentos, além de conhecer estilos musicais variados para somar ao que já faço, além de tocar diariamente músicas que acrescentem ao meu estilo.
Hoje você tem alcançado os resultados, tanto financeiro e tanto de realização pessoal, divulgando seu trabalho? Quais as suas dicas para quem também tem este objetivo e não consegue enxergar muita perspectiva?
Resultados sempre existem. O que acho importante é colocar metas e tentar atingir e caso não consiga, fazer uma análise para ver o que faltou e onde errou.
O bom profissional sempre terá espaço, mas é claro que estamos falando de Brasil, onde a cultura não é o mais importante e sendo assim, as coisas são mais complicadas, mas não costumo reclamar. Quando a coisa aperta, corro atrás. A dica é ter seriedade e ser verdadeiro naquilo que se faz, mas vejo isso em toda profissão. Tem que batalhar muito e tentar não pular etapas, pois todas fazem parte do aprendizado e do crescimento.
O que você tem ouvido hoje que tem te inspirado a compor e a estudar?
Já há alguns anos que tenho ouvido muito caras como Robben Ford e Johnny A., pois eles têm uma linguagem sonora que vem de encontro ao que faço, mas não deixei de ouvir Clapton, Jeff Beck e tantos outros ídolos pois é assim que podemos analisar uma trajetória e claro, fico atento a novas artistas para ver o que está rolando.
Você está lançando um novo disco, o quarto em sua carreira, fora os discos com a banda Controle e com Kid Vinil. Conte mais sobre o processo de composição de “Na Trilha do Blues”?
DB: Este novo cd é o fechamento de um ciclo onde comemoro 25 anos de carreira (contado a partir do lançamento do meu primeiro compacto com a banda Controle) e quis fazer um disco de Blues, pois sempre estive atrela- do a este estilo mas que artisticamente nunca havia feito um trabalho específico.
O conceito do cd é ser um trabalho de blues moderno onde as canções tivessem referências musicais (inclusive nos nomes) que direcionassem a algo significativo dentro da minha vida onde pudesse compartilhar com o ouvinte minha história.
As músicas tinham que passar sensações e com isso fui compondo, pensando nisso, como se estivesse contando uma história. A minha história.
Você poderia nos descrever o seu equipamento atual e quais as marcas que você representa como endorser?
Atualmente estou usando minhas Fen- der Strato e Tele, amplificadores Meteoro (Falcon 50), pedais da Tom Tone (Hot Box Evolution, Black Box, Tommy, Yin Yang, Ducamble e Yankudo) além de Wha Wha Vox e Reverb RV5, cabos da Tecniforte (Prata Pura), cordas SG Strings (0.10 e 0.11) e palhetas Lost Dog média.
Trabalho com todas estas empresas ou como Endorser, ou como demonstrador, mas só trabalho com estas marcas, pois acredito nos produtos de verdade.
Tenho que comentar sobre um assunto bastante intrigante. Crenças, convicções e fé. Eu acredito de maneira convicta e irrefutável que todo o músico tem, de certa forma, uma sensibilidade mais desenvolvida que a maioria das pessoas que não trabalham com arte, seja ela qual for. Você crê nisso? Como sua fé influi na maneira de compor, de encarar e viver a vida, a música e principalmente a sua música?
Eu acredito nisso também, mas acredi- to muito também no trabalho feito de maneira profissional e com amor.
A maneira como o artista enxerga a vida é diferente e muitas vezes lúdica. Mesmo tendo obrigações com filhos e contas e coisas que todo mundo tem que se preocupar, a espiritualidade do artista é diferente, pois a arte em si necessita da alma pura para transpor as barreiras. No meu caso, abri mão de trabalhar como Economista para tocar guitarra, sabendo que iria ganhar menos e ter algumas dificuldades a mais, mas a música veio antes com os meus estudos e que hoje me possibilita ser feliz no que faço. Nunca acordei e pensei “que saco, tenho que trabalhar” e isso vale muito!
Para pontuar esta entrevista, diga-nos suas impressões sobre o cenário guitarrístico brasileiro e quais as dicas para quem deseja alcançar os seus objetivos.
O cenário ainda é complicado, pois como disse antes, o valor da cultura é baixo, mas se você acredita e é sincero no que faz, pode ter certeza que vai dar certo.
A dica seria trabalhar sério, ser profissional e claro, estar preparado para o trabalho.